jiangslore 02/09/2022
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Eu já esperava que "Kim Jiyoung, Born 1982" fosse um livro muito bom, mas, mesmo assim, a leitura com certeza me surpreendeu. A forma que a história é contada faz com que a mensagem da obra seja ainda mais impactante, além de tornar o livro em si um exemplo daquilo que ele busca expressar. A leitura é muito rápida e a escrita é fluida, mas o tema e a mensagem do livro não são leves e a perspectiva com relação às questões apresentadas ao leitor não é exatamente positiva. Na minha opinião, isso fez com que "Kim Jiyoung, Born 1982" fosse ainda mais marcante, mas é importante mencionar que não é uma leitura para dias nos quais estamos um pouco mais pessimistas com a humanidade.
Algo que gostei muito no livro (muito mais do que eu esperava gostar) foi a estrutura da narrativa. No início da obra, Jiyoung encontra-se em um contexto que, apesar de não ser bom, parece muito natural. Então, aos poucos, a vida dela é contada ao leitor, que começa a perceber que não há nada de natural na situação na qual a personagem está.
A autora fez um trabalho incrível ao contar essa história, incluindo episódios da vida de Jiyoung que com certeza despertarão uma sensação de identificação nas leitoras, seja por terem passado por algo parecido ou por conhecerem alguém que já passou por algo do gênero ? afinal, apesar dos episódios da vida de Jiyoung serem os mais diversos, todos eles têm algo em comum: a exposição das dificuldades que ela, sua irmã, sua mãe, sua avó, suas amigas e suas colegas de trabalho enfrentaram simplesmente por ser mulheres. É possível, com isso, ter acesso a uma visão de uma sociedade que mostra que, mesmo com nossas diferenças culturais, há coisas que são iguais (e igualmente inaceitáveis) nos mais diferentes locais do mundo.
Além disso, apesar de ser um livro curto, "Kim Jiyoung, Born 1982" aborda nuances de questões de gênero que demonstram a complexidade dos problemas desta natureza que nossa sociedade enfrenta. Isso faz com que a leitura seja, além de extremamente informativa, muito natural, e, consequentemente, muito agradável. Penso que talvez algumas pessoas não gostem do estilo quase jornalístico que certos trechos do livro possuem, mas, na minha opinião, eles combinaram muito com o tom e o objetivo do livro, além de terem uma explicação coerente dentro da narrativa. Esta explicação surge apenas ao final e foi uma das maiores surpresas que tive durante a leitura, porque ela demonstra concretamente os obstáculos para que os direitos das mulheres sejam efetivamente obtidos: a dificuldade de entender que os problemas enfrentados por mulheres não são individuais, mas, sim, parte de uma estrutura, na qual todos nós somos peças.
E é a demonstração dessa dificuldade, aliada ao fato de que o livro conta (em tese) a história de uma única mulher, que tornam a obra quase metalinguística: como eu havia mencionado antes, "Kim Jiyoung, Born 1982" é um exemplo do que procura expressar; é um estudo de caso que mostra a amplitude da questão de gênero, e que consegue fazer isso escondendo uma quantidade absurda (e justificada) de raiva e ironia por trás de um estilo de escrita quase frio e impessoal.