Camila 25/03/2022
A melhor parte é que acaba.
Somos então apresentados à uma situação: quando morremos chegamos a um rio, o qual devemos atravessar para chegar ao destino pós morte, paraíso ou inferno. E para isso é preciso embarcar em uma das barcas atracadas no porto, guiadas por seus respectivos comandantes, anjo para o paraíso, diabo para o inferno.
Diabo, Ajudante do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Brízida Vaz, Judeu, Corregedor, Procurador e Quatro Caveleiros, são os personagens participantes, dentre os quais apenas dois vão o paraíso; o Parvo, sob a explicação de ter levado uma vida simples e não ter errado por malícia, ou seja, errou sem a intenção de causar mal ou levar vantagem; e os Quatro Cavaleiros, sob o pretexto de terem morrido lutando por Jesus Cristo.
Entretanto, uma vez que cada indivíduo carrega símbolos de seus pecados, e segundo o próprio Anjo, o Sapateiro não carregaria nada se tivesse vivido direito, o que se pode concluir já que os Quatro Cavaleiros carregam suas espadas e escudos? Ao meu ver eles carregam o pecado das mortes e sofrimento que causaram, mas isso não se apresenta como um empecilho para a barca rumo Paraíso ?. O que me leva a algo incômodo referente a outro personagem; o Judeu, que traz consigo um bode (animal de sacrifício da religião), e a princípio o Diabo recusa sua entrada na barca e o envia à outra, onde também é recusado pelo Anjo, para posteriormente permitir sua entrada não sem acrescentar que é uma pessoa muito ruim, dando a entender que seu maior pecado é ser Judeu, uma problemática que seria ignorada em outra época.
Contendo várias críticas sociais e tratando de moralidade com seus personagens controversos, que são apresentados como corruptos, enganadores e ou degenerados (em resumo pecadores), fazendo uma sátira especialmente de figuras que possuem uma importância social, a obra é de rápida leitura também por ser constituída de diálogos, consegui concluí-la em menos de uma hora, porém, levando em consideração que foi escrita há 500 anos, a linguagem simples se torna arcaica e alguns trechos são de difícil compreensão, notas de rodapé me foram muito úteis para o entendimento.
Em geral é uma boa leitura como instrumento de reflexão, interessante como todas as personagens exceto os Quatro Cavaleiros pararam para perguntar ao Diabo para onde a respectiva barca iria, para então irem apelar ao Anjo, e então se renderem ao seu destino, o receio deles também serviu de diversão para o Diabo. Ademais, não achei cativante ainda que tenha entendido o intuito de comicidade, que só obteve êxito em poucas sentenças.