spoiler visualizarMichaely1 05/10/2021
Retrato da sociedade portuguesa
Bem curtinho, confesso. O difícil dele é se acostumar com a linguagem em desuso. Contudo, as partes principais dá para entender. Fiz aqui um resumo rápido só para entender um pouco da obra:
A obra é na estrutura de um roteiro, então só tem uma leve narração bem no início e o resto é diálogo, o que facilita a compreensão.
Existem dois barcos: a que é dirigida pelo diabo e por seu companheiro e a outra, que pertence ao anjo (o destino já é bem óbvio: um ao inferno e o outro ao paraíso).
Por se tratar de uma peça popular com caráter moralista, é óbvio que a maioria iria para o inferno, mas não imaginava quais seriam.
No final das contas, dá para reparar que há fortes críticas ao clero (representado pelo Frade e pelo Judeu, ambas figuras religiosas que, em vez de agirem do modo correto, praticavam prostituição e tinham apego ao dinheiro). Outrossim, quase todas as figuras tentam justificar seus pecados, dizer que frequentavam igreja e nada disso bastou. Achei toda essa perspectiva maravilhosa.
Vi a tradição portuguesa implícita ao se referir aos cavaleiros com nobreza, como aqueles que morreram por Cristo, o que talvez faça referência às Cruzadas e, consequentemente, à ideia de que era uma predestinação divina Portugal se tornar reino poderoso.
Também vi o povo representado pelo Parvo, personagem que é considerado tolo e ninguém imaginaria que seria levado como tripulante da barca com destino ao Paraíso. Gostei ainda mais de Gil Vincente ressaltar que foi a simplicidade do rapaz que o salvou.
De resto, acho que o que me agradou muito foi o fato de haver tanto humor, principalmente pelas ironias do diabo. Sem condições! Gil Vincente tinha um dom de fazer toda a sátira ser o mais cômica possível.
Ver que toda essa obra pode ser tão engraçada e cômica, ao mesmo tempo em que faz um retrato tão condizente com a sociedade me impressiona.