NINAZEN1K 23/07/2023
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó
Essa foi a primeira edição de quadrinhos que li e não tive vontade de parar: fiquei simplesmente extasiada e envolvida pela narrativa do universo Sandman, pelos quadrinhos, pelo roteiro, pelos personagens.
Gosto do modo como a história flui rápido e prende a atenção, principalmente pela presença de gravuras que facilitam o entender dos acontecimentos. (E é preciso dizer que as ilustrações são belíssimas e conversam exatamente com o universo, tudo milimetricamente pensado, contando com as encantadoras - e até aterrorizantes - artes entre cada HQ e também com as fantásticas distorções na composição de cena, caracterizando o domínio do sonhar)
Mas o que acho mais interessante é como Neil consegue ir além, trazendo porções de significados sentimentais e filosóficos à obra - como, por exemplo, na relação com a morte ou na importância do sonhar, também no conceito de sonho não apenas como efeito fisiológico da mente e ao dormir, mas como aspiração e desejo, nas metáforas de depressão e solidão, e em inúmeros outros pontos vistos em cada uma das edições. Enfim, há uma construção de subjetividade, abrindo inúmeros caminhos de interpretação - onde os próprios Perpétuos são a solidificação de uma ideia, e não um ser místico exato e pode-se dizer que "os deuses morrem quando a última pessoa deixa de acreditar neles, mas os Perpétuos duram para sempre".
Inclusive, até nos nomes e arquétipos Gaiman foi genial. Imagine pensar em criar uma classe chamada "Perpétuos" ou trazer Abel e Caim pra sua obra? Que mente!
E o melhor: ele incute sentido em coisas que poderiam ser muito confusas, mas que simplesmente são entendidas ou, ao menos, sentidas; Isso tudo sempre por meio de histórias variadas, do real ao surreal e que contemplam do extravagante ao cotidiano, sendo, é claro, interessantes e divertidas, especialmente únicas.
Tudo inserindo personagens memoráveis e carismáticos, que vão trazendo toques únicos a leitura (gostaria de ressaltar aqui meus eternos favoritos John Constantine, a Morte e Rose).
E, como o próprio Neil Gaiman diz em seu posfácio, o "e então ele acordou, e era tudo um sonho" deixa de ser uma solução preguiçosa e clichê e abre uma nova porta, onde cada mundo é apenas uma fração da totalidade que é o sonhar, que parece ter infinitos pontos a serem explorados, com janelas e portas abertas que desafiam e convidam o leitor a teorizar e se debruçar sobre as possibilidades e significados de cada elemento.
"Mr. Sandman, bring me a dream.."