Ana 19/08/2016O ExorcistaPor volta dos meus 11 anos, minha vizinha, com quase a mesma idade que a minha, me chamou para ver um filme de terror na casa dela. A irmã mais velha dela tinha alugado uma fita (sim, fita VHS… sou das antigas!) e tinha deixado a gente ver com ela. A noite. Só nos três dentro de casa.
Não lembro muito das cenas do filme. Só as mais marcantes, como a clássica da cabeça girando 360º ou o vômito verde. A única coisa que me lembro foi que eu nunca tive tanto medo na vida de ir pra casa. Foram os 35 degraus mais longos de minha vida! (Ela morava no terceiro andar e eu no quarto).
Queria ver o filme novamente esses dias, mas pensei… vou aproveitar esse meu “esquecimento” sobre o filme e vou ler o livro primeiro.
O livro começa nos apresentando de forma muito rápida, o padre Merrin, que é chave fundamental para o exorcismo de Regan. Essa apresentação é tão rápida que te deixa meio perdida, pois Padre Merrin demora um pouco pra voltar em cena.
“Seus olhos ainda estavam fixos em algo sobre a mesa, e o homem de cáqui balançou a cabeça. O árabe o analisava, vagamente confuso. O que estava no ar? Havia algo no ar. Ele ficou de pé e se aproximou; então, sentiu um leve formigar na nuca quando seu amigo finalmente se mexeu para pegar um amuleto de pedra verde e mantê-lo nas mãos, pensativo. Era uma cabeça do demônio Pazuzu, personificação do vento sudoeste. Seu poder era a doença e os males. A cabeça estava furada. O dono do amuleto o usava como escudo.”
Neste meio tempo conhecemos a vida da Estrela de Cinema Chris MacNail e sua filha Regan. Vemos o dia a dia da atriz com suas gravações, seu cotidiano em casa e seu relacionamento carinhoso com sua filha. Regan é uma criança doce, esperta e vivaz, como toda criança deve ser. Em seguida, conhecemos Padre Karras, que passa por sérios momentos de ceticismo com sua fé e a recente perda de sua mãe.
Os destinos dos dois se cruzam quando após constantes brincadeiras de Regan com o tabuleiro Ouija, seu comportamento passa a modificar-se drasticamente. E quando nem os médicos sabem mais o que fazer, a então descrente Chris pede ajuda ao atual descrente Padre Karras.
“Na manhã seguinte, quando Chris abriu os olhos, encontrou Regan na cama com ela, meio desperta.
– Bem, mas o que… Regan, o que você está fazendo aqui? – perguntou Chris, rindo.
– Mãe, minha cama estava sacudindo.
– Ah, sua maluquinha! – disse Chris, beijando a filha e ajeitando as cobertas. – Durma. Ainda está cedo.
O que parecia uma manhã era o começo de uma noite sem fim.”
Eu achei esse livro um terror mais psicológico do que qualquer outra coisa. O Demônio em si se torna plano de fundo perante a todos os dilemas existenciais de Chris e Padre Karras.
Chris, que não acredita em Deus, passa a ter provas concretas da possessão de um Demônio que suga a vitalidade de sua filha dia após dia, dando um “choque de realidade” sobre o “lado oculto” do universo, enquanto Padre Karras sofre dia após dia por simplesmente duvidar da presença de um Deus a quem ele um dia amou, lhe foi tão crível e fiel.
“– Este… é… Meu Corpo – disse ele com intensidade, num sussurro.
Não, é pão! Não passa de um pão!
Ele não ousava amar de novo e perder. Aquela perda era grande demais; a dor, forte demais. A causa de seu ceticismo e de suas dúvidas, de suas tentativas de eliminar as causas naturais no caso de possessão de Regan, era a ardente intensidade de seu desejo de ser capaz de acreditar. Ele abaixou a cabeça e levou a hóstia consagrada à boca, onde, em pouco tempo, ele grudaria na secura de sua garganta. E de sua fé.”
Vi resenhas por aí de gente que alega ter presenciado coisas estranhas acontecendo a seu redor enquanto lia o livro, que morreram de medo ou que nunca mais querem ler algo parecido. Eu particularmente não presenciei ou senti algo. Como disse anteriormente, o Demônio em si torna-se secundário diante tantas dúvidas, escuridão da alma e desesperança por ausência de fé.
Posso dizer que ao final do livro, eu me senti triste. Meio soturna por assim dizer. O livro conseguiu me arrastar pra dentro dessa desesperança e falta de fé vividos pelos personagens. Posso estar parecendo bem estranha agora (não que eu já não seja naturalmente….), mas por mais que eu tenha me sentido assim, eu posso afirmar, com total certeza de que eu adorei o livro. Se a história me faz viver a vida do personagem, me faz sentir as mesmas coisas que ele, é porque ele atendeu a expectativa do autor de te trazer pro mundo dele assim como a expectativa do leitor de ir para o mundo proposto pelo autor. O exorcista fez isso comigo. E por esse motivo, eu posso afirmar que este é um dos meus livros preferidos!
Estava procurando um Gif com a Regan na versão do filme, porque, vocês irão reparar com o decorrer de nossa jornada resenhística que eu A-DO-RO Gif’s. Tentei achar uma com a cabeça virando, vomitando ou descendo as escadas de cabeça pra baixo… enquanto faço isso, ouço uma playlist do Slipknot e, durante uma música bem pauleira, eu acho esse Gif…
Exorcista-34859
Então, deixo vocês com a Regan curtindo Psychosocial do Slipknot e com uma ótima indicação de livro de Terror!
Bons sonhos galera!!
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https://literakaos.wordpress.com/2016/07/26/resenha1o-exorcista-de-william-p-blatty/