Paulo Silas 02/01/2018Um livro que faz jus à qualquer gênero sombrio em que seja situado. Terror de verdade, por assim dizer. Não foi a toa que a adaptação cinematográfica que a obra recebeu teve uma ampla aceitação do público, aterrorizando aqueles que assistem até os dias de hoje. Com o livro não é diferente. Na realidade, o ambiente proporcionado pela história escrita é ainda mais tenso, mais angustiante, mais apavorante. A forma com a qual o autor narra, principalmente através dos diálogos, choca os leitores eventualmente desavisados. Enfim, para quem se interessa pela literatura de terror, não há como se decepcionar com "O Exorcista".
William Peter Blatty conta a história Chris, uma atriz bem sucedida que vive com sua filha, Regan, e seus empregados. A vida de Chris é dividida entre a sua carreira e a função de mãe, já que sua pequena filha de 11 anos necessita do afeto materno como toda e qualquer criança. Mesmo com toda a correria do cotidiano, tudo vai bem na residência de Chris, até quando sua filha passa a apresentar comportamentos muito estranhos. Regan começa a falar sozinha, justificando que na realidade está a falar com um amigo invisível - um espírito que teria sido liberto quando a menina brincou com uma tábua ouija. A criança também passa a reclamar de batidas em seu quarto (ouvidas por todos na casa), que sua cama chacoalha, que imóveis são arrastados e que está sendo atormentada, sofrendo com muita dor, por alguma coisa, sem saber explicar direito o que seria essa coisa. Regan, aos poucos, aparentemente assume outras identidades, já que passa a falar com outras vozes e expressões um vocabulário nunca antes dito. Palavrões, profanações e ofensas passam a ser ditas constantemente por Regan. Notoriamente há algo errado com a criança. Chris passa então a procurar por ajuda médica, uma vez que os problemas com sua filha pioram drasticamente a cada dia. Vários médicos tentam compreender o que se passa com a criança, mas não logram êxito em encontrar uma resposta concreta para o problema. Os problemas se agravam. O desespero toma conta de todos na casa de Chris. Nesse meio tempo, um suposto acidente leva à morte de um amigo de Chris, mas a polícia desconfia que há algo além disso, de modo que o agente policial Kinderman passa a investigar os possíveis suspeitos no provável crime. A situação na casa chega em seu ápice: Regan tem que viver amarrada à sua cama e ser constantemente dopada com remédios que lhes são aplicados em doses cavalares, a fim de se minimizar o estado terrível em que se encontra. O ceticismo de Chris cede ao desespero, ensejando no pedido de socorro feito ao padre Damien Karras para que este intervenha espiritualmente. Após Karras fazer um julgo crítico e bem analisado da situação de Regan, mesmo não querendo acreditar, determina o problema: é um caso de possessão demoníaca. O remédio é apenas um: o exorcismo.
A história é excelente. Muito bem construída, focada na medida certa em cada personagem, a trama se desenvolve de uma maneira própria. Isso porque o livro é rico em diálogos - está repleto deles. A tensão se desenvolve principalmente através da fala dos personagens. É também com auxílio dos diálogos criados que o autor expõe com crueza as situações que desenvolve na história, descritos igualmente sem qualquer pudor: profanações, aflição, desespero, dor, angústia, asco e muito mais - isso tudo dentro de uma estrutura literária coesa que mexe com o leitor. Convence, pois a obra é uma verdadeira obra literária.
Recomendo - registrando o aviso de "vá com calma" aos de estômago mais fraco!