Bárbara 31/12/2020Falar sobre o racismo de uma forma bastante originalSer negro na década de 50, no sul dos Estados Unidos, não era nada fácil. A segregação racial, herança da Guerra Civil Americana, era desculpa para os mais terríveis preconceitos. A hostilidade e o risco de morte eram concretizados pelas "leis de Jim Crown". Negros e brancos não podiam sentar próximos em transportes, não tinham acesso às instalações públicas e privadas igualitariamente. Não tinham liberdade de ir e vir, só se observassem determinados horários. Para se sentirem mais seguros, quando precisavam viajar, valiam-se de "guias para negros", como o famoso Green book - que indicava os lugares seguros para se hospedarem e se alimentarem.
É nesse período histórico que conhecemos os personagens deste livro. Atticus Turner, veterano da Guerra da Coreia, recebe uma notícia envolvendo seu pai, que sumiu, em busca da "herança genética" do rapaz. Para tanto, conta com a ajuda do tio, George, e Letitia, amiga da infância. Mas, para que esse reencontro seja possível, eles precisam enfrentar os mais diversos perigos, como os monstros do universo lovecraftiano. Atticus é apaixonado por ficção científica, e encontramos diversas referências ao gênero e outros autores famosos, como Asimov e Bradbury.
A jornada de Atticus é a primeira de oito histórias. De forma engenhosa, o autor construiu um livro de contos, integrando o enredo através de seus personagens. E, em todos os contos, as críticas ao racismo existem. Há uma espécie de confraria entre os brancos, com destaque para Caleb Braithwhite. Nessa espécie de sociedade secreta, seria possível, através de um ritual usando Atticus, reacender a imortalidade.
O livro mostra que o racismo traz raízes fincadas no tempo. É uma obra bastante atual. Violência policial e injúria contra os negros permeiam o enredo (e existem até hoje). Há também muita coisa do realismo fantástico e do terror cósmico, próprios do Lovecraft, que era racista. A história nos leva a reflexões e críticas, permeadas por fatos históricos, como o massacre em Tulsa, em 1921.
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