Thaisa 17/08/2020
Quando Atticus recebe uma enigmática carta de seu pai que logo depois desaparece misteriosamente, o jovem, acompanhado de seu tio e de uma amiga de infância, parte em uma viagem pelos Estados Unidos afim de reecontrar seu pai.
Mas o cenário dessa história é a América dos anos 50, quando a segregação racial estava em seu auge. E os protagonistas são negros, encontrando obstáculos nos racistas, que cometem atos cruéis contra qualquer um que não se encaixe em seus padrões. E é por isso que esse livro, apesar de possuir um certo humor, também consegue revoltar e enojar o leitor ao escancarar a realidade através da ficção.
Essa narrativa é apenas o primeiro conto de outros 7, cada um focado em um dos personagens apresentados logo no início do livro. Assim, todos os contos estão interligados, girando sempre em torno do sobrenatural assustador e do preconceito terrível.
Como o título sugere, "Território Lovecraft" destaca o amor pela literatura de horror e de ficção científica, principalmente H. P. Lovecraft: apesar de não encontrarmos tantas referências lovecraftianas e seus seres mitológicos, vemos todo o racismo de suas obras, provando que, mesmo em obras sobre o horror inominável, o maior terror é detestar outro ser humano por conta da sua cor de pele.
Outra grande discussão que este livro traz é o fato do autor, Matt Ruff, ser um homem branco escrevendo sobre a vivência negra - o que pode afastar muitos leitores que apontam que este não é o lugar de fala do autor, enquanto faz com que outros defendam a idéia de ele estar ajudando a comunidade negra da sua maneira, trazendo ainda mais atenção para assuntos pertinentes.
Por fim, apesar de alguns contos serem melhores que outros e alguns personagens serem mais interessantes que outros, Ruff consegue trazer muitas reflexões importantes (não apenas sobre raça, mas também gênero e classe) fazendo com que até o maior fã de Lovecraft, das revistas pulp e do terror e da ficção científica, repense sobre como os autores e os gêneros literários influenciaram, ainda mais, a nossa sociedade a ser tão segregada e preconceituosa.
Mais resenhas no instagram literário @livre_em_livros