Candido Neto 25/02/2020Sobre depressão.Vejo tanta gente combatendo o haxixe, pouca gente se empenhando em fazer uma relação entre o haxixe, as pílulas brancas, as amarelas e a necessidade de essas coisas precisarem existir.
É como quando assistimos Coringa aqui em casa, um garoto de 14 anos disse que era um filme maravilhoso e desconfortável, e que era sobre saúde mental (orgulho paterno atingindo outro nível).
Não é um livro sobre viagem, arte ou anos de formação.
É uma obra sobre doença mental.
Saúde mental.
Depressão, limite, automedicação, autogerenciamento, dúvida sobre estar ficando louco, realidade versus a "minha" realidade. Ele vê o mundo da altura do mezanino.
No capítulo um ele olha uma obra, pensa sobre a obra, o artista e a função da arte, olha alguém que surta diante de um quadro, pensa em emoção, função da arte e como uma pintura pode afetar alguém. Vê os seguranças e pensa em qual comportamento se deve adorar para garantir a segurança física do quadro e assegurar o momento do expectador. Pensa em si vendo tudo isso. Pensa na inutilidade de tudo isso e que sem essa futilidade a depressão o levaria ao suicídio.
E ele vê tudo isso de uma plataforma mais alta um mezanino.
Ele observa a vida de um ponto de vista afastado, de uma distância onde ele se acha seguro, contudo é afetado por cada acontecimento.
Em Atocha ele não sofre um arranhão, entretanto fica desnorteado, impactado, perdido e confuso por semanas.
Adam está encastelado em suas emoções, e sofrendo. Curioso como ainda acreditamos que existe uma cartilha de como sofrer, de como se caracterizar e rotular um doente psiquiátrico, um depressivo.
Por isso doenças psiquiátricas são estigma. E os doentes se encondem.
Ainda bem que cardíacos, asmáticos, portadores de órgãos transplantados não são culpabilizados por sua doença. A culpa da doença é prerrogativa do depressivo.
Depressão é frescura? Se for, o suicida é um ator que nunca receberá aplauso pela encenação. Por que tanta gente e a OMS pensam diferente?
Enfim, é um livro necessário e desconfortável, como uma criança de 14 anos diria, só visível para quem não tem medo de olhar para abismos.
Acredito que a partir desse patamar o livro é impressionista, impressionante, imprescindível