spoiler visualizarNina 30/12/2014
Dolores, Humbert e eu
Uma pessoa que conheço uma vez me disse que esse livro possui um dos melhores inícios de história de todos os tempos. E digo, hoje, perto de terminar 2014, que não é apenas o início que é um dos melhores, mas a obra toda.
Terminei de ler repetindo para algum Nabokov invisível: "genial, genial, genial." Fiquei em silêncio tentando assimilar tudo o que havia lido. Incrível!
Uma das minhas metas no nível de leitura era a de enfrentar assuntos complicados e delicados, ler obras difíceis de engolir, Lolita me veio como oportunidade por ter sido eleito em um grupo de leitura da faculdade. Odiei a temática à princípio e senti tanta repulsa que por várias vezes pensei em abandoná-lo. Mas eis que a poesia Humbertiana me cativa e ameniza meu nojo. Acho que a grande sacada do Vladimir foi essa: a de, com maestria, fineza, lirismo, falar sobre um assunto tão complicado como a pedofilia.
À nível intermediário, comecei odiando Humbert, depois amando-o perdidamente, odiando Lolita e terrivelmente chorando por ela ao fim. Que tragédia é enxergar o tédio, a fuga do vazio em queimas de etapa de toda uma geração... Em uma ninfeta de doze anos.
Acredito que a proposta de Vladimir era psicanalítica, discutir a questão da sexualidade, era também filosófica, sobre se nascemos bons e nos corrompemos ou se somos mal por natureza. Como conceber a ideia de uma criança ter inclinações tão cruéis e pervertidas, subvertendo toda a ideia de infância/pureza? Lolita então representaria o humano no estado puro da maldade como inclinação natural. Nada a corrompera, porque nascemos corrompidos, nessa lógica. Pelo lado psicanalítico, a proposta de Vladimir tendeu a ser Freudiana, acredito. Lolita não tem pai, Lolita idealiza uma figura máscula que a proteja, Humbert aparece e "supre" essa ausência. Pelo lado de Humbert, ele é o rapaz que, quando criança, é frustrado em sua primeira experiência sexual, perpetuando seu desejo de menino em corpo de homem para com também meninas.
Por mais tocante que possa parecer o amor de Humbert por Lolita, não consegui ver mais do que egoísmo em seu ato de satisfazer seus anseios na única menina que se submetera à essa situação de "falso incesto".
Lolita representa o tédio, a melancolia de uma geração que se cansa rápido de suas fontes de preenchimento. O amor com Humbert, e todas as regalias ganhadas dele compradas por seu corpo, a entediavam, a cansavam... Não eram suficientes. Lolita tinha sede de vida, sede de proteção, sede de um lar acolhedor.
Ao fim das páginas, os olhos molham, o coração aperta ao perceber uma Lolita adultizada, fumante, com os olhos vagos, grávida, implorando por mais um pouco de vida em uma tentativa de normalidade. É triste perceber que, talvez, essas imagens físicas de Lolita só mostrem que a pobre menina se igualava à Humbert em um ponto: eram apenas almas solitárias, doentes, cansadas, sedentas por mais um pouco de alegria, de preenchimento para o vazio de suas imperfeitas vidas.