Gustavo M.D. 30/05/2017
Relatos do front morto.
Depois de ter lido o Guia de Sobrevivência à Zumbis, fiquei ansioso para ler o próximo livro de Max Brooks, o Guerra Mundial Z, lançado no Brasil pela Rocco. Posso afirmar que com certeza não me decepcionei agora que o li.
O livro têm um formato de transcrições de entrevistas, sendo que quase nada é revelado sobre o entrevistador que compilou as entrevistas sobre os “fatos reais”. Cada capítulo é parte de uma das muitas entrevistas feitas pelo mundo com os sobreviventes da guerra contra os zumbis, de médicos à soldados, passando por pessoas simples e suburbanas.
O livro evolui muito em relação ao anterior, que tentava explicar o inexplicável, algo que eu abomino. Eu aceito de mente aberta a premissa de que houve uma infestação em escala mundial de zumbis, enquanto o livro anterior tentava explicar com pseudo-ciência e pseudo-lógica como vencer os zumbis.
O formato de relatórios do livro dá uma impressão militarizada do livro, algo que muito me agradou, com detalhes da história que poderiam ser considerados irrelevantes para a narrativa, mas relevantes para um relato real, sem muito apego à emoção da época, e mais à prática.
A narrativa muda muito de pontos de vista, para mostrar os vários estágios da devastação criada pelos zumbis e das muitas ocasiões em que a natureza humana mais visceral é revelada para o bem ou para o mal.
As história começa com o surgimento da infestação na China e termina com a vitória em Nova York. O livro tenta puxar o saco de nações não americanas mostrando suas ações heróicas e espertas, mas como todo livro americano ele acaba caindo em um ufanismo bobo sobre os EUA e sobre como a individualidade daquele povo o fez prevalecer, apesar de as nações comunistas estarem melhores preparadas para um confronto tão maciço9com exceção de Cuba, como eu falo adiante).
Pontos positivos: O livro têm muitos, sendo que o melhor é o humor negro disfarçado, provindo de um autor que escrevia para o Saturday Night Live. Os relatos carregam um grande peso de informações relevantes, mostrando uma preocupação do transcritor fictício dos relatos com a utilidade das informações que ele colhia. A narrativa trás pontos cruciais da história, que não deixa o leitor desinformado e faz com que ele sinta o sufoco e o desespero das pessoas que narram. O livro traz histórias muito variadas, que cobrem tópicos de frentes de batalha e sobrevivência que eu nunca imaginaria, mas que são muito plausíveis.
Pontos negativos: O livro ainda está impregnado com pseudo-lógica, assim como considerações contraditórias, como o fato de que todas as ilhas do mundo ficaram infestadas de zumbis pelo fato de os refugiados procurarem abrigo nelas e muitos deles estarem infectados à época, mas Cuba fica livre de zumbis por motivos ignóbeis e sem lógica, se tornando a nação mais desenvolvida do mundo. Todos os personagens entrevistados mantém o mesmo palavreado e expressões, mesmo sendo chineses, finlandeses, americanos ou indianos, o que fez eu chegar à uma conclusão: Max Brooks não consegue se colocar no lugar de ninguém, todos os seus personagens são apenas ele fantasiado e falando com o espelho. Um fato que me incomoda um pouco é que as gerações mais antigas e os povos milenares sempre têm alguma sabedoria sobre zumbis e estratégia para partilhar, como se os zumbis fossem os inimigos ancestrais dos humanos. Será que meu avô não está escondendo nada de mim?
Conclusão: Ótimo livro, mas mais pela temática do que pela conteúdo geral. A ideia inicial é muito boa, e se desenvolve bem, mas nunca é explorada em todo seu potencial, sendo que o livro poderia muito bem ter mais umas 300 páginas. Mas apesar de tudo eu fiquei triste quando o livro acabou, então ele ganha muitos ponto por isso.
site: http://www.grifonosso.com/2011/08/review-guerra-mundial-z/