Vinicius.Dias 30/04/2021
Um bom livro, mas com ressalvas
Em 1975, o filme Tubarão chegou aos cinemas de todo o mundo retratando uma besta dos mares com um apetite insaciável e que, por um determinado tempo, tocou o terror em uma cidade pequena e litorânea dos EUA, levando muito caos e horror para os banhistas daquela região. Esse filme foi um sucesso de bilheteria e cravou seu nome e o de Steven Spielberg nos anais da cultura pop mundial, sendo mencionado e lembrado até hoje pelos principais especialistas e entusiastas sobre o assunto.
O que, a princípio, eu não sabia é que esse filme havia sido inspirado em um livro de mesmo nome, escrito pelo autor Peter Benchley. Outra coisa que eu não tinha ideia, é a possibilidade de se entreter e ficar ansioso acompanhando uma história que se passa na calmaria do oceano. Apesar de ser sobre um predador natural, a gente está falando de peixe e de pesca, e querendo ou não, pesca é algo muito mais relacionado a paciência e tranquilidade do que a tensão. Sendo assim, acabei me surpreendendo e me divertindo, na maior parte do tempo, com o desenrolar de uma história sangrenta e que além do tema central, nos brinda com problemas políticos, tretas com mafiosos e traições de relacionamentos desgastados.
A estória se passa em Amity, cidade pequena e litorânea que dependia exclusivamente do verão e dos turistas para se manter economicamente estável por todo o restante do ano. Acontece que, pouco antes de começar a temporada de férias, um tubarão branco aparece na região e acaba assassinando uma garota que se refrescava em um banho noturno. Nesse instante o autor já começa a trazer alguns questionamentos interessantes sobre a importância da economia em detrimento da vida das pessoas. O chefe de polícia local resolve que o melhor caminho seria fechar as praias até garantir que o tubarão não estivesse mais na região. Já o prefeito da cidade e parte da população acreditam que esse ataque foi algo isolado e fora do comum e que a cidade não poderia fechar as praias na véspera do período de férias pois isso seria um problema gigantesco para o comércio local. Pois bem, no final das contas o prefeito ganha e as praias continuam abertas, outras pessoas se machucam e isso gera outro embate entre a prefeitura e a polícia. Desse segundo embate, fez-se a vontade do chefe de polícia, que optou por fechar as praias por tempo indeterminado.
Em meio a essa confusão, de forma secundária, acompanhamos alguns envolvimentos de figuras importantes da cidade com mafiosos, traições extraconjugais, atitudes imaturas por conta de ciúmes e competições orgulhosas de pessoas centrais da trama. Essas partes extras não existem no filme. Os produtores optaram por removê-las e manter apenas aquilo que tinha a ver com o tubarão, o que, ao meu ver, foi uma decisão sábia. A parte do problema matrimonial e da traição é totalmente desnecessária e em nada acrescenta ao livro, já a parte da máfia, achei interessante e gostaria que tivesse sido melhor explorada. Uma coisa que você vai perceber aqui, é a mesquinhez dos personagens. Eu não cheguei a ter muita empatia com nenhum e por vários momentos acabei torcendo pelo tubarão.
Como já foi dito, o livro me prendeu na maior parte do tempo, porém, acho que o final foi frustrante. Ele até tem um momento poético bacana, mas, infelizmente, foi corrido e confuso ao ponto de eu voltar pra ler mais de uma vez em busca de partes que eu tivesse, por ventura, deixado passar. O autor deu uma senhora ênfase numa história de traição desnecessária mas no clímax do livro, no embate final entre os humanos e o tubarão, ele correu e literalmente assassinou toda a esperteza e inteligência fora do comum do animal. Infelizmente o final foi um balde de água fria na adrenalina que eu estava por conta do capítulo anterior.
Para finalizar, tem algumas curiosidades interessantes. A primeira, é que o autor, na época em que escreveu o livro, não conhecia muito sobre tubarões e a partir do sucesso adquirido, passou a ter mais contato com o animal. Sendo assim, ele acabou descobrindo um ser magnífico que o fez repensar sobre a forma como o demonizou erroneamente. Outro ponto interessante é que, esse livro em conjunto com o filme deram uma fortuna para ele e como forma de agradecer e se desculpar com os tubarões, ele criou uma organização voltada para a preservação deles e trabalhou com esse intuito até o final de sua vida. Bem bacana isso!
O livro foi lançado pela Darkside Books e tem duas edições distintas. Uma normal em brochura e outra em capa dura, resenhada aqui e que se trata de uma versão comemorativa dos 50 anos do lançamento do mesmo. É um livro aprovado com ressalvas, principalmente pelo final corrido e confuso, mas ainda assim é um livro bem escrito que me entreteve por bons momentos. Se você é fã da cultura pop, se é fã do Spielberg, se é fã de predadores naturais e adora tudo que é relacionado ao oceano e seus mistérios, esse livro será uma boa pedida pra você.
?Não há nada no mar que esse peixe possa temer. Outros peixes fogem de coisas maiores. Esse é o seu instinto. Mas esse peixe não foge de nada. Ele não tem medo.?