Schaiany.Alves 09/07/2023
"Tudo nos falta quando faltamos a nós mesmos"
Enfim, concluí a leitura daquela que é considerada por muitos a obra mais importante do romantismo. Honestamente, eu não poderia ter escolhido melhor fase da vida para esse feito, justamente por já não ser mais jovem o bastante para me identificar com Werther. O nosso personagem é alguém que transita entre o fim da adolescência e o início da vida adulta, e a sua imaturidade é palpável. Werther é "too much". Eu não me espantaria se Cazuza tivesse se inspirado no jovem Werther para compor a letra de "Exagerado", porque inventar amores e se jogar a seus pés é algo que Werther decididamente fez ao longo do livro.
Sobre inventar amores, confesso que compartilho da mesma dúvida de Charlotte: não fosse ela comprometida, teria Werther se apaixonado tão avassaladoramente? Não podemos esquecer de que, antes mesmo de ver Lotte pela primeira vez, nosso amigo foi avisado que aquela moça (ainda por conhecer) estava noiva. Ao que tudo indica, Werther tomou o aviso como um desafio, pois passou a semana seguinte aparecendo todos os dias na casa de Lotte, criando, alimentando e inventando sentimentos.
É necessário lembrar, também, que se trata de um romance epistolar, na qual temos contato com os acontecimentos pelo ponto de vista do próprio Werther, que está muito longe de ser um narrador confiável. Ele acredita piamente que é correspondido e que Charlotte se casou com Albert apenas para honrar o compromisso firmado. Ocorre que, em vários momentos do livro, Charlotte deixa claro que é muito feliz em seu casamento, chegando ao ponto de falar abertamente que gostaria que Werther fosse seu irmão ou, pelo menos, que tivesse se interessado por uma de suas amigas. Werther não aceitou o seu lugar de amigo na vida do casal, tornando-se absurdamente inconveniente, ao ponto de constranger a destinatária (ou seria alvo?) de seus sentimentos, forçando-a a suplicar por um pouco de bom senso. E ainda pior do que isso, fez com que Albert e Charlotte participassem indiretamente da sua "cartada final", quase como em uma espécie de vingança, para que a culpa nunca os abandonassem e, de certa forma, para que ele jamais fosse esquecido.
Ainda assim, em que pese toda a minha irritação com o personagem, o fim me deixou angustiada. Não vou alongar para não deixar spoiler, mas é impossível não se perguntar como teria sido se Werther tivesse, simplesmente, deixado o tempo realizar o seu trabalho.
O livro, enquanto obra, é lindíssimo. É uma prosa poética, se é que isso faz algum sentido, mas não o achei fluido. Apesar de possuir menos de menos de 200 páginas, levei quase duas semanas para concluir a leitura. As cartas se tornaram cansativas e repetitivas em um dado momento, mas imagino que o propósito tenha sido retratar o estado psicológico do personagem.
Aviso importante: essa obra é extremamente melancólica e pessimista, não sendo indicada a pessoas que estejam enfrentando grandes turbulências na vida, nem a adolescentes ou jovens recém-saídos da adolescência.