Poesia na Alma 28/07/2012
Chapeuzinho Amarelo
Livro de Chico Buarque em sua 27ª edição, conta-nos a história de uma garota e sua intrínseca relação com o medo. Impulsionando o leitor as seguintes questões: seria possível viver sem o medo? E se o medo é presente como vencê-lo?
E por ter medo de tudo conhecemos a personagem central desta história por Chapeuzinho Amarelo. Que em sua existência já não ria, nem comparecia as festas, não brincava de amarelinha etc.
“...Não ia pra fora pra não se sujar.
Não tomava sopa pra não ensopar.
Não tomava banho pra não descolar.
Não falava nada pra não engasgar.
Não ficava em pé com medo de cair...”
O medo, figura constante na obra, chega ao ápice quando a protagonista denota seu receio de ter medo do medo do medo do medo de encontrar um lobo.
“Um LOBO que nunca se via,
que morava lá pra longe,
do outro lado da montanha,
num buraco da Alemanha,
cheio de teia de aranha,
numa terra tão estranha,
que vai ver que o tal do LOBO
nem existia...”
E mesmo sabendo que tal lobo não existia o medo de Chapeuzinho Amarelo de encontrá-lo cada dia majorava. Tão predominante o medonho medo, que o Lobo tornou-se figura materializada para nossa pequena protagonista. Tão grande e assustador, capaz de comer duas avós, um caçador, rei, princesa e sete panelas de arroz, e, principalmente um chapéu amarelo de sobremesa.
Frente a frente com o mais temido medo que Chapeuzinho Amarelo poderia enfrentar. O que fazer? Aonde se esconder? A quem recorrer? O que acontece com esta garota amedrontada?
Eis que nos deparamos com uma quebra total de expectativas, pois quem achou que a Chapeuzinho iria procurar ajuda enganou-se! Ao olhar fixamente para o mais temido dos medos, a personagem, viu-se sem medo. E de tão sem medo sobrou apenas um lobo. E a Chapeuzinho ria... ria... ria... por não sentir mais medo. Reconquistando a alegria de viver, superando seus temores!
Fica evidente a intertextualidade com a história de Chapeuzinho Vermelho, dos Irmãos Grimm. Existe na troca de cores a simbologia do oposto, pois onde uma representa à menarca a outra retrata o medo. A desconstrução do mito do lobo ser o mais forte e a Chapeuzinho ser frágil é o que ascende a história. O uso de uma linguagem inovadora coloca o leitor diante de um dilema: seria este um livro apenas infantil? Enquanto adulto quais os medos que ainda não superei? Quais os mitos impostos pela sociedade que podem atrofiar a segurança da criança nela mesma? O que mais podemos desconstruir e reconstruir para superar nossas angustias e medo?
Chapeuzinho Amarelo é um livro que nos prende, deixa saudades, imploramos para que não acabe, que sentimos o gosto gostoso que só a leitura pode proporcionar.
Informações técnicas:
Buarque, Chico. Chapeuzinho Amarelo / Chico Buarque; ilustrações de Ziraldo. – 27ª Ed. – Rio de Janeiro: Jose Olympio, 2011.
Por lilian farias