Lauraa Machado 16/09/2020
Raso, forçado e corrido, um desperdício de uma boa premissa
Sabe, eu já estou cansada de livros YA rasos e forçados com a desculpa de que, se não é para adulto, não precisa ser bem feito. Não aguento mais encontrar livros adolescentes sem substância e com personagens absurdamente bidimensionais, imaturas e dispensáveis, mas é pior ainda quando a ideia por trás da história é boa e você sempre quis um livro como ele. Foi assim para mim. Maior decepção do ano por enquanto.
Não sei dizer qual foi exatamente o problema por trás de tudo. Seria pressa da autora e da editora para lançar os livros dessa duologia? Fica difícil perdoar mesmo se for, porque eu conheço dezenas de autoras que teriam feito um trabalho muito, mas muito melhor com poucos meses, brasileiras inclusive. Se Rachel Hawkins estava sem vontade para escrever o livro, não precisava escrever, sabe? Tudo aqui parece que foi feito só por fazer, sem qualquer envolvimento da autora e possivelmente do editor, o que impede qualquer envolvimento dos leitores. Não tem nada que cative em essa história feita às pressas e com a narrativa mais superficial que eu já vi em muito tempo.
Como é possível alguém ter a premissa de uma garota meio nerd que ama geologia (pelo amor de deus, gente, é a parte mais chata da geografia) ter um romance com uma princesa meio problemática, principalmente quando as duas se odeiam no começo e são obrigadas a dividir um quarto? Estou revoltadíssima pela autora ter jogado essa história fora desse jeito! Todas as cenas incríveis, instigantes e tensas que ela poderia ter criado só pelo fato das duas se odiarem e terem que conviver foram completamente ignoradas. Sempre que tinha alguma oportunidade de um desenrolar mais interessante, a autora resumia mais ou menos em uma cena rápida e cortava para o próximo ponto da história. Deu para ver o descaso e a preguiça de desenvolver as cenas além do superficial e criar uma intimidade maior entre as personagens e também entre o leitor e a história.
Minha frustração aumentou rápido, mas logo desapareceu, porque eu desisti de vez de encontrar qualquer coisa na história que me satisfizesse. Minha nota é exclusivamente pela premissa e por não ter nada ofensivo de verdade no livro.
Sabe, a autora não conseguiu nem criar personagens suficientemente interessantes. Na primeira metade do livro, Flora parece ter doze anos, e não dezessete. Ela é, para ser indelicada e honesta, burra. Simplesmente burra, inconsequente, sim, mas burra também. É diferente você não se importar com nada e querer sempre fazer tudo do seu jeito de você não ter a mínima inteligência para a autopreservação básica de um ser humano. Na segunda metade, Flora magicamente vira outra pessoa completamente diferente, como se tivesse envelhecido anos em poucos dias e sem qualquer desenvolvimento.
O problema é que tudo aqui é clichê, todos os mínimos detalhes basicamente, mas também é tudo raso e passado por cima. A tensão do ódio das duas foi forçada, não teve a menor base e nem deu para eu ficar animada com esse ódio que eu sabia que viraria amor. Todos, absolutamente todos os conflitos e suas soluções neste livro foram forçados, exagerados e nada convincentes. Não sei se a autora não esperava que seus leitores fossem minimamente inteligentes e que fossem exigir um pouco mais do que entretenimento vazio (que aqui nem consegue fisgar o leitor a ponto de ser divertido e realmente entreter), só sei que foi essa a impressão que ela passou.
A protagonista narradora é tão esquecível que quase nem me lembrei de falar dela. E tudo que eu tenho para falar é que não consigo me importar com ela ou com o que acontece com ela. Pelo menos eu tinha algo para comentar sobre a Flora, ainda que fosse uma crítica, né?
Já li fanfics muito melhores do que este livro, com bem mais substância. Definitivamente não teria sido difícil enriquecer essa premissa maravilhosa com uma história que valesse a pena, que tivesse algo a acrescentar à vida dos leitores, algo a dizer, e que ainda conseguiria ser leve, fofa e divertida como esta devia ter sido.
Acho que vou desistir dos livros da Rachel Hawkins daqui para a frente. Este é o quinto dela que eu leio e, de todos, só um deles realmente me cativou. Todos os outros entraram para a lista de decepções. Então, não, eu não recomendo. Ela tem ideias ótimas, sinopses atraentes, e enredos desperdiçados. Chega de frustração, sabe? Cansei.