Lauraa Machado 14/12/2020
Arrastado e enrolado, mas bem escrito
Pela minha nota, quatro estrelas, pode parecer que eu adorei esse livro, que ele é excelente e que essa série tem grandes chances de ser uma das minhas favoritas. Nada disso é verdade. Quer dizer, o livro chega bem perto de ser excelente, mas não adorei e infelizmente vou acabar lembrando dessa série como uma daquelas que teve páginas demais para história de menos.
Não tem como negar que a autora escreve extremamente bem, que sabe desenvolver seus personagens e uma história complexa. Mas faltou editar muita coisa aqui, porque ela perde tempo reafirmando sentimentos demais, em pensamentos e pequenas histórias dos personagens até suas últimas páginas, tudo bem desnecessário para quem já está lendo essa história há mais de mil páginas. Me vi revirando os olhos quando ela contava mais uma história paralela no começo de um dos últimos capítulos em vez de ir direto ao ponto.
Isso e suas contradições foram duas coisas tão legais nos primeiros capítulos, mas desandaram rápido. Eu costumo adorar capítulos que começam com um foco paralelo, mas depois da milésima vez, quase literalmente, já não estava aguentando mais. Suas contradições também me fizeram revirar os olhos várias vezes. "Ele não queria nada. Ele queria tudo." Ela usa uns trinta conjuntos de opostos só nesse livro daqui para descrever sentimentos e sensações. Chegou a parecer que ela já não sabia como descrever mais, o que não atrapalharia em nada, porque ela costuma é pecar pelo excesso de descrição, então perder algumas só poderia ser vantagem.
Ela também peca no excesso de pontos de vista. Tem poucos do Kell aqui, na verdade, porque a autora insistiu em incluir capítulos pelo ponto de vista de vários personagens com os quais, para ser bem honesta, eu não me importava nem um pouco. Foi como os capítulos do Holland no livro anterior. Eu gosto dele, sempre gostei, nunca precisei realmente que ela me convencesse de que ele é humano, e não um vilão, mas não estava mais aguentando ter que ver a história dele por lembranças. Esse livro foi realmente um peso para mim, salvo por alguns momentos de respiro dos capítulos do Kell e da Lila. Infelizmente, até os do Rhy foram bem chatos para mim.
Outra coisa que me incomodou muito, mais na primeira metade do que na segunda, foi como a autora fez questão de abordar a reação de todos os personagens para as mesmas coisas. É bem chato chegar na página duzentos e ver que nada realmente aconteceu até ali, você só viu pontos de vista de trezentos personagens diferentes que você conhece bem o suficiente para já ter previsto suas reações. Aliás, se você enxugar toda a divagação dos personagens, sobram pouquíssimos acontecimentos. Na minha opinião, o enredo está ótimo, os acontecimentos foram muito bons e, se não tivesse tanta enrolação entre eles, esse livro seria excelente.
E nem dá para falar que é porque o livro é focado em personagens, porque eu já conhecia todos os personagens e definitivamente não precisava de tanta descrição redundante aqui. Quer dizer, esse é o terceiro livro e a autora ainda fez questão de nos lembrar mil vezes (mentira, deve ter sido umas dez) que o Kell tem um olho azul e um preto. Pelo amor de deus, se você não tiver entendido isso até agora, é melhor desistir da história, por favor. Eu sei como eles são fisicamente, mas, se a autora fazia questão de relembrar os leitores, já que cada livro acaba sendo publicado com um ano de intervalo, ela poderia fazer isso uma única vez no começo. Vinte mil é passar um pouco do limite.
Se você gostou do segundo, vai amar esse, porque ele é realmente muito bom. Se você achou que o segundo era pura enrolação, vai encontrar a mesma enrolação aqui. Os personagens são maravilhosos e continuam assim aqui, nunca desapontam. Mas eu fiquei decepcionada por perceber logo nas primeiras cem páginas que não estava gostando da história, que não estava me divertindo. Foi assim até o final, quase desisti antes de chegar na metade.
E o final é ótimo, o enredo é ótimo, mas não pude aproveitar nenhum deles com uma narrativa tão arrastada e chata. Talvez eu tenha gostado bem mais do primeiro, porque era algo novo. Mas ler mais de mil e quinhentas páginas desse jeito de narrar denso e repetitivo que não sai do lugar foi difícil. Espero que os outros livros da autora sejam diferentes.