Michelle Trevisani 09/07/2021
Um livro para muitas reflexões.
Oi, oi gente!
Tudo bem por aí? Hoje trago para vocês um livro que estava morrendo de vontade de ler, pois tinha ouvido críticas muito boas sobre ele. Estava me preparando para vários socos no estômago ao ler. Alguns aconteceram sim, mas a cadência da leitura foi mais leve do que eu imaginava. Trago para vocês hoje NA CORDA BAMBA, de Kiley Reid. Cola comigo:
Sobre o livro:
Emira está com 26 anos e segue perdida. Ela terminou a faculdade, mas não consegue um trabalho descente, um trabalho pelo menos que lhe pague seguro saúde. Resolve então se candidatar, até surgir coisa melhor, para um cargo de babá, trabalhando alguns dias por semana.
Emira é negra e a família para a qual trabalha é branca. Até aí pra ela, tudo bem. Ela ama a garotinha que foi deixada aos seus cuidados, a Briar. Ela é esperta e inteligente e um doce de menina. Mas um acontecimento, certa noite, muda tudo em sua vida. A família de Briar passa por uma situação constrangedora e precisa acionar a polícia tarde da noite. A mãe de Briar pensa imediatamente em Emira para ficar com a menina durante esse acontecimento e pede para Emira dar uma volta com Briar até tudo melhorar. “Vão ao mercado aqui perto”, a mãe sugere. Acontece que Emira estava em uma festa e suas roupas não estão tão legais para uma missão babá tão tarde da noite. E talvez ela tenha tomado um ou dois copos de bebida alcoólica. Ela passa todas essas informações para sua chefe, que diz estar tudo bem.
Acontece que um dos guardas do mercado vê Emira com Briar e desconfia que Emira na verdade possa ter sequestrado Briar. Tudo é filmado por um homem que acompanha o embaraço de Emira explicando que trabalha para a família e o guarda insistindo que ela sequestrou a menina de seus pais.
Agora há um vídeo gravado de toda a situação – Emira poderia jogar na lama o mercado e processar feio o local que a fez passar por esse constrangimento. Mas Emira não está afim de mexer com nada disso, não quer se expor na mídia. E esse é o menor dos problemas em sua vida neste momento. Emira está mais preocupada em como é que vai pagar o aumento do aluguel com o salário que ganha e, como vai procurar trabalho em outro local, depois de se apaixonar por uma criança como Briar? Sua família parece pouco se importar com ela – e Emira sente que Briar só tem a ela no mundo.
Opinião:
Gente. Passada com essa leitura. Muita, muita coisa nas entrelinhas! Nossa! A autora soube usar muito de situações sutis para mostrar como pequenas coisas no nosso dia a dia ainda são carregadas de preconceito, de soberania, um nojo. Situações que nem deveriam ser imaginadas, mas que acontecem diariamente, com mais frequência do que a gente pensa.
A situação escancarada do livro de longe foi o guarda no mercado achar que Emira estava sequestrando uma bebê só porque ela era negra e a bebê branca. Mesmo que a bebê não estivesse mostrando nenhum tipo de resistência, mesmo a bebê a chamando pelo nome e a abraçando para se proteger. Mas o livro é recheado dos acontecimentos mais absurdos, que a se a gente observar bem, com cuidado, vai ver além e ficar igualmente chocado.
O livro tem uma cadência ótima, achei que seria uma leitura mais pesada, pois já imaginava que o tema central seria preconceito. Mas me surpreendi com uma narrativa inteligente e não apelativa, uma história que poderia facilmente ter acontecido comigo, com você.
Briar, a garotinha, também tem um papel fundamental no enredo, uma criança pura, que só queria a atenção dos pais, que vê em Emira sua melhor amiga. É triste mesmo ver as indecisões de Emira, que sabe que o emprego que está não lhe paga bem, que gostaria de estar vivendo coisa melhor, mas que ao mesmo tempo se afeiçoa tanto a pequena Briar que se vê amarrada a ela, sem saber como sair.
Li algumas resenhas que acharam a personagem da Emira pouco ativa, muito sem graça. Fiquei refletindo nisso durante a leitura e quer saber - como alguém que foi colocada no lugar de "sem voz", de repente muda? Gente, não é fácil mudar uma história inteira de vida. A Emira do livro precisou lutar muito dentro de si para talvez enxergar que poderia ser mais e mesmo assim, como foi difícil conseguir algo "melhor". O melhor na vida dessas pessoas, às vezes, é um igual com cores alteradas. É muito, muito triste isso.
Na corda bamba traz um retrato da vida de pessoas que vivem à margem. Nos mostra como podemos ser mesquinhos em nossas escolhas, achando que sabemos o que é o melhor para a vida do outro sem ao menos saber completamente como essa pessoa vive ou é. Como julgamos sem dar chances. Como julgamos, julgamos, julgamos. A todo momento.
site: http://meulivrodocelivro.blogspot.com/2021/07/resenha-na-coda-bamba-de-kiley-reid.html