Karine 11/04/2023O retrato de todas as periferiasPrimeiramente, quero dizer que, embora pareça besteira, é muito legal ler um livro que se passa em locais conhecidos, com personagens por quem provavelmente eu passo todo dia, e uma linguagem super familiar. Não que eu conheça de verdade a realidade das vilas onde Pedro, Marques e Luan vivem, mas moro perto e frequento todo dia as imediações da Vila Lupicínio Rodrigues, conheço razoavelmente a Vila Planetário, onde já trabalhei num projeto social, e frequento o supermercado que inspirou o Fênix. Enquanto lia esse livro, em vários momentos observei o movimento nesses lugares, passei por jovens moradores das vilas e imaginei que qualquer deles poderia facilmente ser Pedro, Marques, Luan... É como adentrar um pouco uma realidade que está tão perto de mim, mas que ao mesmo tempo eu só imagino de longe, ou vejo pelos noticiários, tão impessoais.
Comecei a seguir o autor nas redes, não lembro bem por que, e pude notar como sua obra estava repercutindo bem, por isso decidi furar minha fila de leituras com esse livro. Gosto de como ele escreve de uma forma super coloquial, refletindo exatamente a forma de se expressar das periferias de Porto Alegre, e ao mesmo tempo narra com muita eloquência. Os personagens estão cansados de viver na pobreza, e de ver seus pais, avós, trabalhando honestamente há gerações, sem nunca conquistar nada... Embora todos saibam que o crime não é a única opção, sabemos também que não há lá muitas disponíveis. Pedro é suficientemente inteligente pra saber que a vida no crime também é curta, e elabora um plano para traficar de forma “segura”, apenas o suficiente para quebrar o ciclo da pobreza e poder abrir um negócio, viver em paz com uma renda que atenda suas necessidades básicas. Ele convence amigos na mesma situação a participar, e logo estamos torcendo pelo sucesso dos bandidos. Porém, entrar no crime é bem mais fácil do que sair, como logo eles irão descobrir.
Já quero conhecer o resto da obra do Falero, e espero que ela aumente cada vez mais. Acho de extrema importância quando escritores e escritoras da periferia conseguem chegar ao grande público e mostrar de forma crua a realidade da maioria da população brasileira, mas que ainda é tão pouco representada nos livros por quem de fato faz parte dela.