Pietra 30/01/2023
Um pouco sem ar
De verdade, parece que li as últimas 50 páginas do livro enquanto corria meia maratona. A adrenalina, a atenção, a preocupação e a respiração entrecortada estavam todas lá, contudo eu estava sentada na minha cadeira de trabalho, me recusando a voltar para os diversos e-mails não lidos enquanto não terminasse esse livro. E olha, como valeu a pena.
Claro, me deixou nervosa pelo resto do dia, mas como não ficar nervosa com os questionamentos, vivências e acontecimentos da história? Impossível não se deixar levar pelas vidas de Pedro e Marques, dois jovens adultos da periferia de Porto Alegre, loucos para serem mais do que isso.
Em ?Os Supridores? somos introduzidos a um mundo varrido para debaixo do carpete, coberto pelas cortinas às pressas, e falado entre os cochichos nos bairros nobres, durante o café, o almoço, a janta, ?Você viu no noticiário o que aconteceu?? ?Vi sim, ainda bem que é longe daqui?. José Falero termina com essa distância, física e financeira, ao expor em 300 páginas, de forma simples e sarcástica, a dura realidade de milhões de brasileiros, cercados pela pobreza e falta de oportunidades, colocando as drogas no holofote. A tal esperançosa saída de uma vida miserável.
E ele te pega de jeito, viu? Ainda não sei se é pelo linguajar tão familiar a quem é jovem, o jeito bem brasileiro de se falar, se são pelas digressões com as quais qualquer um pode se identificar, ou apenas pela simples vontade de ver onde tudo isso vai dar, mas ele te pega. Cada um dos personagens acaba virando um conhecido (quase como a pessoa que você vê todo dia na padaria, fala bom dia, conversa sobre o tempo, sabe?), principalmente Pedro, nosso João Grilo 2.0; esperto, malandro e sedento por uma vida melhor e tranquila.
O fim deixa um gosto agridoce na boca. Ao mesmo tempo que sentimos que ele quase faz sentido, gostaríamos que ele não fizesse, e acabamos torcendo para que dessa vez a justiça não seja feita. E assim como um dos próprios personagens diz: ?Não era justo! Mas era verdade. Não fazia sentido! Mas era verdade. Era mentira! Mas era verdade.?
Acredito que o livro inteiro possa ser espremido nessa frase cheia de exclamações. Ele em si é uma grande exclamação, vermelha, gritante, bem no meio da nossa cara. Foi uma ótima leitura (deveria ser obrigatória), a qual me fez enxergar fatos que por muitas vezes eu ignorei ou fiz vista grossa. Por mais difícil que algumas partes possam ter sido, a mensagem fez-se clara: é assim que o mundo é, não é justo, mas é verdade.