Felipe 12/12/2020
O Mapa de Sal e Estrelas
É o segundo livro que leio de um escritor sírio e mais uma vez, me veio aquele turbilhão de sensações com relação a tudo que vem acontecendo na Síria desde 2011. Mais de 10 anos de uma Guerra estúpida e que parece sem fim.
Nesse livro temos duas narrativas que acontecem de forma paralela mas com quase 1000 anos de distância entre elas. Nos tempos atuais, conhecemos a jovem Nur e sua família que é forçada a deixar sua casa na Síria por causa da guerra e iniciar uma jornada de muitos desafios e perigos em busca de um novo lar, de um asilo. Na outra ponta, conhecemos a jovem Rawiya, aprendiz de cartografia, inicia uma jornada com seu tutor para tentar elaborar o mapa, das terras então conhecidas, mais completo de seu tempo. As duas histórias nos trazem muito amadurecimento nos caminhos que foram traçados e também muita emoção. Cada capítulo vai mostrar o que aconteceu, com cada personagem, ao passar por um determinado país.
Nur tem um tio que mora em na cidade autônoma de Ceuta e para chegar lá vai enfrentar diversos perigos. O primeiro país para qual fogem é a Jordânia e depois atravessam, de balsa, para o Egito. Quando está próximo do Egito, a balsa começa a pegar fogo e afunda, mas Nur e sua família conseguem sair vivos e depois de alguns dias andando e algumas horas de ônibus, chegam ao Cairo. Da capital egípcia partem para a Líbia, Argélia, Marrocos para enfim, chegarem a Ceuta. A história é fictícia mas retrata, acho que posso dizer isso aqui, baseado nas notícias que chegam para nós, extremamente parecida com as histórias de refugiados que tentam se mudar para a Europa atrás de paz e uma terra que possam chamar de lar. E é muito sofrido, triste imaginar que pessoas passam horas andando, sem comida e sem água para terem o simples direito de se manterem vivas.
Rawiya tinha esse sonho de confeccionar mapas e vai atrás desse sonho. Ela mora no que hoje é a cidade de Ceuta e parte para Fez, uma cidade no interior do Marrocos e se encontra com Al-Idrisi (cartógrafo famoso que realmente existiu e confeccionou o mapa mais completo de seu tempo) para partir em sua companhia. Eles passam pelos mesmos lugares que a família de Nur e enfrentam vários perigos, incluindo uma luta com uma ave gigante que devora seres humanos, além de enfrentar o exército de az-Zafir, califa fatímida. Foram muitos perigos para conseguir retornar e finalmente escrever e desenhar mapas e um atlas.
O que fica para mim desse livro, é o sofrimento dos refugiados. Sofrimento esse, que posso ter uma ideia e nunca sentir. Posso, de longe, ter empatia por todos que perderam suas casas, precisaram passar horas andando, fugindo de sua terra, enfrentando desertos, contrabandistas para tentar encontrar um lugar com paz e tentar reconstruir a vida. Um livro desses me deixa ainda mais sem esperanças com o ser humano. Fico me perguntando como chegamos nisso? Anos de história para vermos uma guerra destruir, em segundos, tantas vidas, tantos lugares, tanta história. É pedir muito para simplesmente viver? Em um ano tão difícil como esse por causa da pandemia do covid-19, as pessoas ainda precisam lidar com essa guerra, que volto a dizer, é tão estúpida e só trouxe destruição.
O livro é ótimo, um pouco lento nas primeiras 50 páginas, mas depois fica bem mais dinâmico e profundo. O autor consegue nos colocar em cada situação como um observador, o que trás bastante realidade a história. Conseguimos vivenciar todos os perigos, desafios enfrentados por Nur e Rawiya.