Laiza 20/04/2021
O Mapa de Sal e Estrelas - Zeyn Joukhadar
Após a morte do pai, Nur e sua família mudam-se para Síria, terra natal de seus pais e irmãs, após anos vivendo em Nova Iorque. O que era para ser um recomeço, se torna uma jornada dura e assustadora, com a eclosão da guerra civil síria e a migração forçada da família, que busca por asilo, refúgio e segurança em outros países. Quase um século no passado, também acompanhamos Rawiya, que saí de casa para tornar-se aprendiz de um famoso cartógrafo. Apesar de anos de distância, as duas jornadas possuem similaridades e se aproximam, apresentando a realidade da migração no Oriente Médio.
"Histórias são poderosas, mas se você guardar demais no coração as palavras dos outros, elas afogarão as suas próprias. Lembre-se disso" Página 32.
"Qual a necessidade de fronteiras desenhadas com sangue em meio à criação divina?" Página 137
Como a história apresenta duas personagens, separadas por anos de distância, temos dois pontos de vista intercalados. Temos aqui uma jornada de amadurecimento e força e, apesar de ambas terem propósitos distintos e migrarem por motivos diferentes - Rawiya escolhe por conta própria, enquanto a família de Nur é forçada a migrar -, ambas as histórias se conectam de forma singela, em detalhes, acasos e locais. E é muito divertido e bonito notar essas similaridades, e fazer as associações entre as personagens e os obstáculos que elas enfrentam e ultrapassam.
"As coisas mudam demais. Sempre temos que consertar os mapas, repintar as fronteiras de nós mesmos" Página 78
"Os pontos mais importantes de um mapa são aqueles para onde não fomos ainda" Página 214
O ponto central das histórias de Nur e Rawiya é demonstrar diferentes formas e visões sobre o ato de migrar. Rawiya escolhe fazer sua jornada, que é tanto sobre autoconhecimento quanto de amadurecimento, e ao longo de todo esse processo ela enfrenta obstáculos físicos, políticos e mitológicos também. A parte de Nur se conecta mais com a realidade que vemos hoje, em que conhecemos e observamos as barreiras sociais e políticas àqueles que forçadamente precisaram deixar seus lares. A situação de vulnerabilidade e insegurança ocasionada pela guerra, se intensifica frente a necessidade de lutar por espaço, recursos e oportunidades de recomeçar em outro lugar. A jornada de Nur é não apenas política, mas também individual e familiar, em que acompanhamos todos os desdobramentos, incertezas e feridas que a situação desesperadora marcam em sua vida e daqueles em sua volta. Sinto que aqui temos vislumbres claros a tangíveis sobre a dura realidade da migração, e que o autor se preocupou muito nisso. A sensação de insegurança e o cansaço, não apenas físico mas psicológico, são bem trabalhados e trazem uma densidade à narrativa.
"Seu sorriso se torna um lembrete, um quadro para eu fixar para sempre em minha mente. [...] Quando olho para trás outra vez, o contador de histórias ainda nos observa, suas palavras ainda na minha cabeça: É viver que nos machuca". Página 116.
A narrativa é bastante poética e cheia de floreiros, com muitos detalhes. Isso acaba diminuindo um pouco o ritmo e o desenvolvimento do enredo, tornando a leitura cansativa, exigindo bastante concentração por parte do leitor. Isso acabou prejudicando muito minha leitura, porque eu me cansava, ou o enredo se arrastava, ou me perdia um pouco no que estava lendo, já que demora para chegar no fato.
"A terra onde seus pais nasceram sempre estará em você. Palavras sobrevivem. Fronteiras não são nada perto das palavras e do sangue". Página 306
É uma história bonita e sensível, mas que peca muito em captar a atenção do leitor. Então não é o tipo de livro que eu releria ou que me marcou profundamente. Acabei demorando muito mais para concluir, e o ritmo moroso e a falta de fluidez fazem com que em alguns momentos seja difícil ter grandes sensações em cenas mais tensas ou tocantes. É um livro que com certeza eu indicaria pelo tema, e pela sensibilidade com que ele é trabalhado acredito que vale a pena, mas que quando penso na experiência completa, eu pensaria duas vezes e iria para algo mais emocionante e intenso.
"Mas estar em segurança não tem nada a ver com coisas ruins nunca lhe acontecerem, e sim com saber que as coisas ruins não podem nos separar". Página 183.
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