@mulheres.e.literatura 01/11/2020
Resenha por @mulheres.e.literatura
No posfácio de "A terceira vida de Grange Copeland", a autora Alice Walker escreve: "A Sra. Walker era metade do mundo dela, como as pessoas de cor são mais da metade da população do planeta. Será que eu poderia fazer quem me lê perceber esse fato e ver a conexão entre sua opressão como mulher (e a opressão de seus filhos) e a nossa quanto povo? Será que eu poderia fazer quem me lê se importar? Será que o sofrimento é a única coisa que ganhamos ao passar por tragédias que poucas pessoas desejam ver? E o dever de quem escreve para com todas as pessoas que sucumbem, deploráveis, pobres, abusadas, sob a mortalha envergonhada do silêncio?".
Alice nos apresenta 3 personagens principais: Grance, seu filho Brownfield e sua neta Ruth. Ao longo da história, que vai e volta no tempo, somos introduzidas às histórias de cada um, seus sofrimentos, sonhos fracassados, experiências traumáticas e violentas. Além deles, 3 mulheres também são essenciais para a história: Margaret, Mem, e Josy, mulheres que além do racismo estrutural e cotidiano que vivenciam desde que nasceram (no caso das duas primeiras), também são vítimas de violência de gênero, violência física, sexual, psicológica.
Neste livro, passado no começo do século 20 no sul dos Estados Unidos, Alice nos desafia num misto de sentimentos.
Os mesmos homens adultos que vivenciam a segregação racial, a exploração econômica, sendo tratados praticamente como seus antepassados escravizados, com dívidas, sem liberdade, autonomia, direito de sonhar, são os que torturam suas companheiras, agridem, humilham. A autora explora os danos irreversíveis do racismo na saúde mental daqueles e daquelas que são oprimidos, explorados, colocados como seres humanos de última categoria. Ao mesmo tempo, ela não busca justificar os atos terríveis de seus personagens: "A opressão que sofremos nas mãos do homem branco jamais justificará a opressão que cometemos com as próprias mãos, seja você homem, mulher, criança, animal ou árvore, porque o interior que eu valorizo se recusa a ser propriedade dele. Ou de qualquer um".
Da mesma autora de “A cor púrpura”, um livro inesquecível!
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