rschl 06/02/2023
A fofoca mortífera
Crônica de Uma Morte Anunciada foi escrito por Gabriel García Márquez e lançado em 1981. O livro narra os acontecimentos que levaram ao assassinato de Santiago Nasar, um homem comum. Esse fato é anunciado na primeira linha do livro: “No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo”. E como conseguir prender o leitor se você já contou o final do livro?
Gabo foi espetacular em sua escrita. O narrador do livro, que também é personagem e amigo de Santiago, começa a investigar o crime e a entrevistar as pessoas que se encontraram com a vítima durante o dia de sua morte. A reconstrução dos seus passos mostra que todos sabiam do crime, mas ninguém avisou Santiago para tentar evitar o que ocorreria. O autor é conhecido pelo seu realismo mágico e pela intersecção entre o que absorvera durante sua vida e o que colocava em sua escrita. Com esse livro não foi diferente: você sente o suspense, a descrição do cheiro, a ambientação, a revolta e a impotência durante a leitura. No final das contas, você tem a sensação de que está se deparando com uma história real, lida em um texto quase jornalístico, mas sem perder as linhas de ficção.
Nesse quebra-cabeça de várias visões de personagens, todas são unidas pelo narrador, podemos ver que o sentimento que permanece na comunidade é a culpa compartilhada a partir da negligência da falta de aviso. Existe uma grande crítica nas entrelinhas do livro a uma sociedade que não se responsabiliza pelo coletivo, em que a omissão ganha frente à empatia. Qual nossa responsabilidade frente à omissão de um fato que pode atingir o individual ou o coletivo?
Crônica de Uma Morte Anunciada virou um dos meus livros favoritos. Com menos de 100 páginas, você simplesmente não consegue largar um segundo a obra.
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