Coisas de Mineira 28/05/2021
“Garotas em Chamas” (The Burning Girls, editora Intrínseca) é o novo thriller dessa autora que me conquistou desde O Homem de Giz. Apesar das críticas e reclamações de diversos leitores por aí a fora, eu nunca me deixei abater. =) Sou fã confessa. Antes de tudo, vejo a cada obra publicada, a evolução de Tudor como autora do gênero. Ela gosta e sabe fazer mistério, terror, suspense! E em suas duas últimas obras (As Outras Pessoas e Garotas em Chamas) sinto que cada vez mais ela tem acertado a mão para um estilo próprio, sobretudo, sem sombras de reclamações dos mais exigentes.
“O caminho é íngreme e irregular. Dos dois lados, há lápides tortas despontando da grama alta. Tem um monumento mais alto à esquerda. Um obelisco cinza sinistro. Diante dele, deixaram o que parecem buquês de flores mortas. Mas, olhando melhor, vejo que não são flores mortas; são bonequinhas de gravetos.”
As histórias de Tudor não possuem ligação. Cada trama tem seus próprios caminhos. E até agora ela não me decepcionou. E dessa vez, C. J. Tudor nos apresenta um horror folk com seu “Garotas em Chamas”. Dessa vez somos transportados à Chapel Croft, uma pequena aldeia com uma história sombria que remonta já alguns séculos. Ali na cidade as coisas nunca foram muito “normais”, e surgiu a necessidade de um novo vigário para igrejinha local. Igreja essa que guarda muitos mistérios e segredos.
Jack Brooks e sua filha Flo, mudam-se para Chapel Croft, de forma temporária, ou seja, até que venha um vigário titular para ocupar a posição que Jack irá exercer por enquanto. Nesse sentido, vindas de uma cidade grande, não será uma adaptação tão fácil naquele meio rural, onde todos parecem se conhecer e saber da vida uns dos outros. Em outras palavras, quem diria que poderia, de certa forma, as coisas terem um contexto até perigoso? É o que iremos acompanhar nessas 352 páginas. Do mesmo modo, como sempre, fiquei fisgada e interessada no livro de forma contínua, e não larguei dele até saber todos os segredos.
“Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia; e o que vocês sussurram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados.” Lucas 12:2,3
Jack descobre que seu antecessor morreu de uma forma que não haviam lhe comunicado. A vigária, nesse meio tempo, também recebe recados e “presentes” estranhos, parecendo que de certa forma, ela não é bem-vinda na cidade. Há também um costume local em que se constroem com gravetos, “Garotas em Chamas”. Uma espécie de homenagem à 2 crianças que foram mártires assassinadas ali onde Jack será vigária. As coisas podem ser bem sinistras para quem vem de fora, de um contexto tão diferente. Pouco depois, isso tudo se torna assustador, e como poderemos perceber, também arriscado.
Todavia, além desse passado distante com a história dos mártires, que foram traídos e queimados, marcando a história de Chapel Croft, temos também um caso de desaparecimento de algumas pessoas há uns 30 anos: duas adolescentes e um jovem vigário. Situações essas que nunca foram esclarecidas. Mas, o que tudo demonstra, as pistas já se esfriaram há muito… Fato é que esse “drama” é mais um fio da teia assustadora e misteriosa que envolve os moradores da cidade. E assim Jack e Flo meio que tentam se adaptar a toda essa carga pesada de histórias funestas.
“A Igreja não é só para os que acreditam em Deus. É para os que não tem nada em que acreditar. É para os solitários, perdidos e sem teto. Um refúgio.”
Flo, filha de Jack, é uma garota de 15 anos que ama fotografar. Ela deixou seus amigos para trás, e está um tanto perdida nessa nova vida. Entretanto, conhece um rapaz, de uma forma meio peculiar, e eles passam a ter contato. Ele seria seu único amigo ali. Seu nome é Lucas, e aparenta ter uma série de dificuldades em sua vida. Flo se interessa pelo rapaz, e acaba mentindo para sua mãe para encontra-lo. Todas as vezes que essa dupla se reúne, algo estranho, ou mesmo mal e ameaçador, acontece.
Jack não é fã do amigo de sua filha. As mães têm sempre razão? Ou a vigária está sendo superprotetora pelo fato da vida das duas nunca ter sido fácil? Realmente Jack tem traumas e marcas de seu passado que a assombram. E obviamente, ela não divide esses medos e aflições com sua garota. Por que ela faria isso? E antes de começar o período de trabalho que foi assumir na igreja, Jack fica quase obcecada em descobrir o que tem acontecido na cidade, bem como quem tem mandado recados assustadores/alarmantes para sua casa.
“O amanhã não tem garantias. Cada dia é uma dádiva, que devemos usar com sabedoria.”
De seus quatro livros publicados, “Garotas em Chamas” é o que mais tem essa pegada puxada para o terror. É também um livro que delimita bem o que é real, o que é sobrenatural, e o que é simplesmente o mal encarnado. Temos um pouco de tudo nessa nova obra, e creio que a autora irá arrebanhar mais uma boa quantidade de leitores. Em contrapartida, espero que quem não gostou ou não se convenceu com sua primeira ou segunda obra, não desista assim, de uma vez. Eis aqui, acima de tudo, uma boa chance de conhecer outro viés de Tudor.
Logo, esses dois últimos livros podem provar o que eu defendo: Tudor tem crescido. Enfim, tem tudo para ganhar um espaço só seu na literatura mundial. Portanto, em “Garotas em Chamas”, você será transportado entre narrações de passado e presente, e de personagens distintos. Isso torna a narrativa muito dinâmica. Você se sentirá navegando entre mais de 500 anos, mas também em uma atualidade que está longe da nossa realidade. Tudo nesse livro para mim foi bom, mas pelas escolhas finais da autora para obra, minha nota mais uma vez é 5/5.
“A única verdadeira diferença entre uma verdade e uma mentira é a frequência com que se repete.”
Finalizo com um sentimento de gratidão pela editora Intrínseca que nos apresentou C. J. Tudor há uns anos, e não desistiu dela. A autora está a cada ano lançando uma obra nova, e a editora segue firme, publicando-a com uma qualidade impressionante. Por fim, os livros além de terem uma qualidade gráfica impressionante, seguem um estilo que nós, que gostamos de ler e colecionar, piramos para deixar juntinhos na estante. Ah! E Tudor já deixou claro no fim desse livro, na parte dos agradecimentos, que ano que vem a gente se encontra de novo. Ansiosa estou desde já!
“Uma mentira por omissão continua sendo mentira. Mas me pergunto: quem sou eu para julgar.”
Por: Carol Nery
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