Laryssa Rosendo 08/04/2022Em inúmeros momentos, eu quis abraçar Camila. Quis abraçar Tia Encarna, María, Sandra, todas as que se expunham no Parque Sarmento. E escutando a história delas, consegui ver a grande hipocrisia que exalava em mim... quantas travestis virei a cara, (in)conscientemente para poupar o desconforto mútuo. Por medo de demonstrar algum tipo de sentimento negativo, também não deixei exteriorizar os sentimentos positivos. E, quando, a gente tem a oportunidade de conhecer tão profundamente suas dores, Camila nos dá a chance de sermos pessoas melhores. E urge a necessidade de sermos melhores.
No livro Camila mostra que a vida das travestis tem muitas coisas boas, tem festas, companheirismo, amizade, risadas, mas sem romantizar, demonstra que apesar de positivo em vários pontos, também é sofrido, doído e incerto, sem saber se a noite acabará em festa, ou morta numa vala.
Falar da sua infância, do preconceito do seu pai, e a submissão da sua mãe, também toca num espaço bem dolorido, de ver que o lugar seguro para você ser quem é, não existe.
Ressalta-se que não se trata de um simples relato autobiográfico, tendo pitadas de realismo mágico, característica da literatura da américa latina. Esse alívio é delicado e cheio de metáforas que nos tocam a alma.