Márcia 22/04/2023
O ganho do livro: as relações de um matriarcado.
Não escolhi esse livro, foi decisão do grupo de leitura de que participo, o Leia Mulheres de Vitória da Conquista. Eu me aventuro por essas indicações pois, sozinha, possivelmente não chegaria a esses títulos. Só que, dessa vez, a leitura não desceu fácil. Briguei com o livro e com a autora até entrar na segunda parte dele, de um total de 307 p.
O título havia me intrigado: como assim, a extinção das abelhas? A obra pretende ser uma distopia, porém pouco vi dessa tática, a não ser pela ideia de colapso e extinção que são as palavras-chave. As abelhas tinham sido dizimadas (colapso ecológico), mas as mentalidades, os sistemas, as relações e o próprio desejo também. Os exemplos que ela traz de uma possível distopia coincidem com o mundo real, esse de agora, por isso não vi distopia.
O grande ganho da obra está nas relações humanas que são construídas. Ao mesmo tempo em que há solidão ? ?As pessoas vão embora, e isso é uma realidade?, Natália Borges Polesso, a autora, enfatiza, na primeira linha do livro, que Regina, a protagonista, busca novas formas de encontro nos mais diversos atravessamentos. Regina foi abandonada aos oito anos pela mãe Lupe, que fugiu com pessoas de um circo para ter uma vida errante por países latino-americanos. O pai dela morreu. Quem vai dar suporte a ela são as vizinhas: o casal Denise e Eugênia (que tem a filha Aline). Regina namora Paula, que tem 60 anos de idade. Dessa forma, as personagens de Natália compõem um verdadeiro matriarcado que tenta remontar o que se quebrou. É a rede possível de sustentação de uma comunidade inexistente ? o sonho neoliberal de que não há sociedade, apenas indivíduos.
Foi chato e complicado pegar o fio da meada da história. A autora conecta um capítulo a outro, interligando-os por meio da palavra final de um e o título do próximo. Em entrevista, Natalia diz que a opção por essa arquitetura dialoga com a estrutura da tessitura narrativa. Eu não concordo. Precisei voltar inúmeras vezes para tentar entender quem era quem, se havia ligação entre as partes e se elas, de alguma maneira, se conectariam lá na frente.
Ficou aquela sensação: tem coisa boa no livro, mas será que a história não poderia ter sido contada de maneira diferente?