Fer Paimel 24/07/2022O mapeador de ausênciasMais uma bela leitura de Mia Couto.
Confesso me sentir um pouco incapaz (ou seria imatura?) de entender todo o significado que o autor traz na sua escrita. Ele consegue dizer muito com poucas palavras e tenho sempre a sensação de não entender, por completo, o que ele quis dizer.
Acho uma escrita muito inteligente e me dá prazer tentar desvendar seus mistérios.
Extremamente poético, esse é um livro quase metalinguístico, porque por meio de uma linguagem poética, o enredo é composto por personagens principais que são literalmente poetas kkkk a análise que eles fazem de eventos comuns, como algo elevado, é bem característico dessa mentalidade poética de embelezar o comum. É o oposto da minha personalidade, muito pragmática. Talvez por isso tenha apelo para mim, porque é desafiador entender a mente de pessoas com visões tão subjetivas sobre tudo.
Esse livro ainda aborda a questão das memórias, como algo que representa poder, afeto e a construção do nosso caráter e da nossa personalidade. Todavia, é difícil contar com a memória, quando as coisas que lembramos nem sempre são verdadeiras (quem nunca ouviu falar de falsas memórias?!). Mas até que ponto nossas memórias não são formas de resistência?
O título é uma bela representação da história. Enfim, a narrativa é inquietante, também pelo fenômeno natural que é pano de fundo do enredo? ele aumenta a tensão das descobertas dos personagens no avançar da leitura.
Leitura bem rica e inteligente, recomendo! Pretendo reler, para tentar reter mais do que Mia Couto oferece.
Edição da TAG, como sempre, impecável.