spoiler visualizarThábata 13/03/2022
Excelente, mas com um ponto de dúvida
Lindo livro, em que Miga Couto conseguiu combinar doses perfeitas de lirismo e ação. Ao final da leitura, a sensação que me ficou foi justamente a de que, uma vez mapeadas as ausências, é possível encontrar a paz com o próprio passado - ainda que este caminho possa ter sido repleto de descobertas dolorosa - e, assim, seguir em frente.
Um ponto apenas me causou estranheza e dúvida quanto à linha temporal da história: no capítulo 14, nas "Anotações do meu pai sobre a segunda viagem a Inhaminga", de 21/04/1973, Adriano Santiago relata ter encontrado Almalinda nessa ida a Inhaminga. De fato, após ter sido resgatada no rio, o inspetor Óscar Campos pede que o Padre Januário esconda Almalinda em Inhaminga, até que se consiga transporte para levá-la para fora de Moçambique. Nas pags. 193/195, Soraya, uma antiga amiga, conta a história da vida da Almalinda. Relata que, após sair de Inhaminga e retornar ao orfanato em Portugal, ao menos dois anos se passam - período em que Almalinda tem a filha Liana. Após ter o bebê, já trabalhando como agente da PIDE, Almalinda é recrutada para uma missão em Moçambique. É nessa missão em que ela é assassinada, jogada da janela.
Ocorre que no capítulo 16, "Anotações de Adriano Santiago. Chegada a Beira", de 23/04/1973, ele toma conhecimento do assassinato de Almalinda. Ora, se em 21/04/1973 ele encontrou Almalinda pela primeira vez em Inhaminga, e se após esse encontro Almalinda teria voltado a Portugal, onde passou ao menos dois anos, como, já apenas dois dias depois, ela já estaria de volta, tendo sido assassinada?
Esse ponto é que me causou incômodo no que se refere à temporalidade, mas pode ser que haja alguma explicação ao fato, que me tenha passado despercebida.