lAvia 14/09/2023
Ham(l)net
O luto é, possivelmente, a coisa mais devastadora, profunda e, simultaneamente, vazia que alguém pode sentir. digo vazia porque o luto, em essência, é isto: a falta de algo que, mesmo não estando mais ali, ainda tem um espaço a ocupar. um buraco no formato de alguém que mais nada nem ninguém pode preencher. é uma ausência tão grande que deixa de ser falta e passa a ser presença, densa, sufocante, sugando a todos como um buraco negro.
é sobre isso que "hamnet" se trata. sobre a presença da falta de um filho e a dor que sua família tem de carregar após a perda. sobre a dificuldade de seguir com a vida quando aquela de alguém que ama tanto foi encerrada prematuramente. e, indo mais além, de encontrar algo diferente nesse luto; não só um propósito, mas um alento. encontrar na dor o amor que ainda se sente, que continua, independentemente das circunstâncias.
é um livro belíssimo, muito bem escrito, que coloca shakespeare em segundo plano e dá destaque a agnes, esposa do dramaturgo, com o objetivo de retratar aquela que deve ser a maior tragédia na vida de qualquer mãe. é uma leitura simples, mas dolorida; várias vezes, me peguei à beira das lágrimas. ainda assim, valeu a pena. não teria lido qualquer outro livro no lugar desse.