valentine 15/03/2022paixão é a irmã mais violenta da expectativaTodos nós tivemos a experiência: estar em uma livraria é uma dança gentil e silenciosa. Andar se parece muito com rodopiar quando se está rodeada de livros, o toque fica muito mais suave, os olhos brilham, a gente se apaixona à primeira vista. Vi A Vida Invisível de Addie LaRue inúmeras vezes, ao longe. Flertei com ela, me atrevi a tocá-la, me investi no processo de atração até que finalmente me atendesse e fosse minha. Quando finalmente chegou, senti seu cheiro, folheei, admirei sua aparência, entorpecida de uma paixão que nem era minha.
Livrarias nos vendem uma versão mais embriagada, fantasiosa do que essas obras realmente podem ser. É o palco perfeito para armadilhas. Mesmo ciente disso, eu não me importei com a possibilidade: ouvi maravilhas sobre você, livrinho, duvido muito que tenha algo de errado. Você esteve no topo da lista dos meus desejos por meses, e essas coisas não se forjam.
Agora eu volto do divórcio, enfurecida.
A Vida Invisível de Addie LaRue é uma tentativa exaustiva de encontrar profundidade e significado na vida por uma autora que obviamente ainda não os encontrou. Como um dos piores relacionamentos que eu já tive, eu acreditei no que havia me prometido e no final eu só queria que tudo acabasse logo. Fico procurando outras pessoas que passaram o que passei, como um grupo de apoio de sobrevivência. Ouvi que a escrita era encantadora: era só um aglomerado de palavras-chave profundas que, lidas com atenção, não faziam muito sentido nem adicionavam qualquer tipo de emoção real. Ouvi que Addie era maravilhosa: com 300 anos de vida, parecia ser a mesma garota lamuriosa que era quando começou a jornada. Você não foi nada do que me prometeu.
Fechando com a chave de ouro, que não é nem o triângulo amoroso tenebroso, está aquele momento em que percebemos que o relacionamento nunca dará certo. Que eu me pergunto como eu já pude gostar de você: é claro a narrativa contém uma livraria. É claro que nessa livraria tem um gato. E o gato se chama Livro. Eu fechei o livro - o de verdade - e, contando a história para o meu noivo, rimos juntos. Já dava pra ver sinais de que eu estava pronta para seguir em frente.
Agora, traumatizada com a experiência, eu jamais cometerei o erro novamente. Nunca mais vou me permitir enganar por um rosto bonitinho. Só será amado por mim quem eu experimentar por experiência, não pela dos outros. Enfim, largando a metáfora: eu só gasto com livro de novo depois de ler por mim mesma.