rxvenants 14/01/2024O reflexo de uma cultura que não sabe lidar com saúde mentalÉ um choque bem grande ler esse livro sob a perspectiva de alguém que já esteve e está no lugar da autora.
Eu me lembro muito bem como é ter medo de procurar um psicólogo/psiquiatra e receber um mal atendimento e ? por mais que ela não perceba ? eu sinto muito por Baek Se-hee.
Quando terminei o livro e fui rever minhas anotações das coisas que me incomodaram na fala dê profissional que acompanha Baek, tive que procurar sobre saúde mental e tratamento na Coreia do Sul e visão de outros profissionais sobre esse livro. Eu precisava saber que o que eu senti não era a toa e realmente tinha algo errado.
Bom, aparentemente é algo estrutural da Coreia e nem mesmo profissionais da saúde conseguem escapar sozinhos de um problema tão enraizado na sociedade coreana.
Primeiro que eu já acho bem esquisito se consultar psiquiatra sem o acompanhamento de um psicólogo. E aparentemente é uma prática comum da Coreia do Sul empurrar os problemas para baixo do tapete durante sessões de psiquiatria e aumentar doses de remédio caso os pacientes não "melhorem".
Os comentários dê psiquiatra (a gente nunca sabe o gênero delu durante a consulta) são extremamente rasos e não fazem nada para ajudar Se-hee entender o motivo de ela fazer as coisas que faz e mudar ativamente a vida dela.
Ela comenta sobre como ela recorre ao álcool e ao invés dê psiquiatra ajudá-la a entender o motivo de ela ficar bêbada com frequência e o que ela ganha com essa atitude, alu simplesmente manda ela não sair com amigos que bebem tanto e tentar não fazer mais isso.
Não há análise, não há entendimento.
Descobri depois da leitura que o tratamento com alcoolismo é desse jeito por lá.
Tem também passagens que a autora fala sobre sua preocupação com ansiedade ao conhecer novas pessoas e fazer novas amizades. Ê psiquiatra diz que a ansiedade dela pode causar incômodo em outras pessoas.
Ela diz como ela tenta sempre ficar bonita para os homens e reclama que ganhou peso. Ê psiquiatra comenta sobre o peso dela com algo tipo "Jura? Nem tinha percebido. O que te fez ganhar peso?" meio surprese.
Se já não é legal falar sobre o peso dos outros, imagina a falta de ética de um profissional da saúde.
Há diversas partes em que ela discorre sobre os problemas dela e ê psiquiatra só diz que é normal e é assim mesmo.
Essas consultas são um reflexo direto da cultura coreana.
Não me admira que a autora escreve que passou 10 anos na "terapia" e as coisas mal mudaram e às vezes ficaram piores depois de consultas. É bem triste.
Além desses problemas, eu achei o livro bem entediante no geral. É um livro bem mais raso do que eu esperaria de um memoir com transcrições de sessões de terapia.
E apesar de eu entender como a estrutura patriarcal e preconceituosa molda a sociedade em que ela vive, ler esse livro foi reviver um dos meus maiores medos: de ir em uma consulta e ter os meus problemas jogados pra de baixo de um tapete recebendo um atendimento ruim. É por isso que dou essa nota pra esse livro.
Bom, ler I Want to Die but I Want to Eat Tteokbokki foi uma experiência horrível pra mim. Foi um insight interessante na cultura da saúde mental sul-coreana, mas como experiência pessoal, foi desgastante.
Saí da leitura me sentindo triste e revivendo grandes medos como uma pessoa que lida com distúrbios mentais por mais de 15 anos.