Thai lendo 13/07/2023
"É desoladoramente poético. Saber que a única coisa que te provém alívio provoca agonia na mesma proporção."
Vampiros? Vampiros!
Sabe quando você começa um livro que sabe que vai ser bom? Que sabe que vai ter uma ótima experiência? Comigo esse livro foi assim. Eu já sabia que ia ser bom, ja sabia que ia gostar, e fui com expectativas bem altas, nem todas foram superadas, mas a maior parte me surpreendeu, e de uma forma bem positiva.
Para começar com a protagonista, o desenvolvimento dela é bem perceptível, até mesmo para ela que, nos últimos capítulos, descreve que mudou muito. Ela teve uma construção boa, mas ao mesmo tempo eu senti que não foi de um jeito normal, de um jeito comum. Parece meio superficial. Os outros personagens seguem a mesma lógica, eles são bons, muito bem feitos, mas não parecem muito bem desenvolvidos, e também não dá para se apegar a eles, os transformando em uma parte que deveria ser essencial no livro, para algo superficial.
Na verdade, isso foi um grande problema durante a minha leitura. Eu amo vampiros, amo histórias de fantasia, ainda mais quando envolve política e estratégia, e apesar da quantidade de páginas, eu estava preparada para o desafio.
No começo, até gostei de ler, mas não conseguia me apegar a história. Depois de um tempo, a quantidade de páginas deixou de ser uma oportunidade de cenas interessantes, para uma certeza de virar uma história maçante. Foi isso que infelizmente aconteceu, a história ficou cansativa, o número de páginas não ajudou, e as cenas de ação não compensam as dezenas de cenas de conversa e jantares na corte, ou ainda mais, as descrições de vestidos e outras vestimentas.
Outra coisa, a vilanidade da protagonista. É comum e muito bem avaliado, a ideia de ter uma protagonista (ou antagonista) malvada, que passe acima de todos para alcançar seus objetivos e tenha uma crueldade não fingida. A Belladona é assim, mas perde um pouco da sua essência logo nos primeiros capítulos, quando começa a questionar se tem lealdade com Lucca ou se vai conseguir aliados no castelo. Não que seja ruim, mas foi um ponto negativo, já que ela só volta ter essa personalidade tão panfletada nas divulgações, lá pro fim do livro, mais de 500 páginas depois.
É por isso que eu esperava que a história em si, fosse melhor. Mas é mais do mesmo, brigas na corte, uma cena de ação vez ou outra, diálogos sentimentais com alguns personagens e uma vez ou outra explicação dos planos, nada muito novo, o que seria ruim, se não fosse o próximo e principal ponto na minha leitura; a construção de mundo.
De verdade, a Laura deu uma aula nesse quesito aqui. Apesar de dentro do livro eu não me importar nem um pouco com o mundo e a geopolítica (até porque no livro isso não é nem um pouco aplicado de forma interessante) dentro da história, olhando por fora, tenho que admitir, esse livro é um exemplo de construção de mundo. Árvore genealógica, história de origem, países proximos, comércios, guerras antigas, vestimentas, normas, etiqueta e até mesmo instrumentos e comidas diferentes, baseados em uma cultura e desenvolvidos para o livro. Foi um trabalho em tanto, muito bem feito. Ficava um pouco irritada na hora de ler tantas palavras em outro idioma, mas achei tão bonito, tão legal, deu uma originalidade na história. Esse foi de longe o meu ponto principal em Belladonna.
Esse é um livro muito bem feito e muito bem pensado. Não me conquistou nem me prendeu do jeito que eu esperava, mas não posso negar que foi bom. Mesmo com tantos pontos negativos, ele ainda consegue facilmente ser uma das melhores estruturas literárias que li (falando do mundo). Agora a história em si, não me prendeu nem gostei, é previsível e pouco elaborado, estava esperando um plot twist enorme, mas recebi apenas uma explicação mal introduzida.
Outras coisas que não gostei foram as mortes desnecessárias, as cenas feitas para chocar que não tinham um real propósito e também os misterios e desavenças que eram introduzidos aleatóriamente e não foram nem um pouco resolvidos.
Enfim, tem muito o que dizer, muito o que melhorar e muito o que colocar se realmente tiver um próximo livro, mas não é ruim. Recomendo, porque, de verdade, é um trabalho gigante e impecável para uma autora independente fazer, e só mostra como livros nacionais têm um potencial enorme num mercado literário que pouco se importa com eles. Além do mais, a estrutura dele como ebook surra a de muitas editoras grandes. Gostei, quero ler o próximo e recomendarei esse com certeza, ainda mais que tem vampiros.