Juju 08/06/2023
Uma psicopata glamourosa
Grace Bernard não teve uma vida exatamente fácil. Com a mãe tendo sido abandonada ainda grávida por um ricaço esnobe e desprezível que nunca teve a intenção de firmar um compromisso sério, ambas tiveram de enfrentar uma boa cota de desafios espinhosos pelo seu caminho. Por um lado, isso fez com que Grace se tornasse forte e determinada desde muito cedo, cultivando uma personalidade afiada e mordaz que a acompanharia para sempre, no entanto, o ódio que nutria pelo pai e sua outra família criaria raízes em seu coração amargurado. A morte da mãe adoecida foi o estopim que levou Grace Bernard a traçar um novo objetivo de vida: matar todos os membros do clã Artemis, também conhecido como sua família, nem que para isso necessitasse abdicar e sacrificar muitas outras coisas como amor, tempo, felicidade e sucesso profissional. A parte mais difícil certamente seria escapar impune, porém com sua astúcia ela sempre esteve confiante de que conseguiria. Agora, dentro da prisão, acusada de um crime que não cometeu, Grace Bernard narra em detalhes picantes, bem-humorados e sarcásticos o processo de matar sua não tão querida família.
Eu tinha ouvido falar bem desse livro lá fora, porque ele foi um best-seller e autoras como Jojo Moyes teceram grandes elogios, afirmando que durante a pandemia esta obra foi a responsável por lhe tirar de uma ressaca literária. Realmente é divertido e o ritmo de leitura flui de forma agradável, eu terminei rapidinho, mas em termos de originalidade é um pouco discutível. Não achei algo assim tão criativo ou sequer mega empolgante. A personagem principal - Grace Bernard - tem uma personalidade ácida e bastante sarcástica, portanto, está a todo momento tecendo críticas afiadas sobre os hábitos de sua "família" e pessoas em geral que se interpõem em seu caminho que envolvem roupas, decorações e costumes exóticos da burguesia. Mas chega uma hora - ao meu ver - que isso cansa e ela se perde em muitos devaneios infindáveis. Está narrando um assassinato e de repente no capítulo seguinte retrocede contando uma história do seu passado, o que acaba quebrando todo o clima. Até as mortes arquitetadas achei bastante simplórias, esperava algo bem mais elaborado. Grace é claramente uma psicopata e não sei bem se gosto da maneira que a autora suavizou esse traço, ignorando sinais e evitando se aprofundar em seus problemas de saúde mental, mas por outro lado eu também compreendo que não era bem esse o foco da obra. Eu me aferrei bastante à esperança alimentada por alguns colegas de que o desfecho trazia uma reviravolta inesperada e bombástica. Terminou que eu já tinha deduzido grande parte desse final, porque se você prestar bastante atenção nas entrelinhas da história consegue sacar a maioria dos elementos. Enfim, admito que fiquei um tanto desapontada, pois tinha altas expectativas para essa leitura em específico (talvez tenha sido esse o problema, se for ler não vá com tantas expectativas). Em resumo não é uma obra chata ou enfadonha, muito pelo contrário, mas compará-la a grandes produções como "Kill Bill" é um belo de um exagero. Acho que teria funcionado melhor em menos páginas, de uma forma mais objetiva e sucinta (ao contrário do que está cadastrado aqui no site do Skoob, o livro possui 325 páginas e não apenas 256).