Paulo 07/09/2023
Abandonado
É muito raro eu abandonar um livro. Mesmo livros de teoria política e teoria do cinema, por exemplo, quando tenho dificuldade de entender e demoro a ler, insisto na leitura, insisto no tempo, raras vezes abandonei. Assim como com filmes sou muito criterioso com livros, mas acabo sendo menos por causa de minha atual profissão de livreiro, então tanto com filmes quanto com livros, devido a esses critérios, é difícil eu detestar alguma obra.
Alguns nomes, títulos etc., de qualquer uma dessas duas linguagens (cinema/literatura), são trivialmente ou naturalmente repelentes ou aversivos, especialmente para amantes mais apaixonados e criteriosos dessas artes. Isabel Allende era um nome de altas expectativas para mim.
"O vento sabe meu nome" foi ansiosamente meu primeiro livro de Isabel Allende, o último lançado por ela (2023). Abandonei a leitura no mesmo dia, pouco depois de 20 páginas.
A escrita é pouco mais do que mera descrição de gestos e de acontecimentos, mera descrição como é típico de novos escritores que também costumam ser novos leitores, mas é muito menos do que uma escrita lírica, bonita, encantadora, interessante. Na verdade, talvez um pouco acima do nível de um novíssimo amador, Allende parece usar de uma cartilha de palavras, expressões e frases quase genéricas que têm alguma sonoridade bonita, cartilha usada por novos (ou, no caso, maus) escritores de maneira talvez quase inconsciente, em outras palavras, são construções sintáticas (muito boas enquanto sintaxe) clichês, comerciais, fáceis, pouco criativas, sem graça, não há absolutamente nada de encantador na sua escrita. Particularmente, eu acredito que já não sou muito chegado em romances históricos, pelo menos enquanto gênero escolhido (ou seja, quando se intende fazer um romance de época/com temas épicos distante da sua época).
Depois de décadas como escritora, só posso supor que, se esse último lançamento é - sendo objetivo - muito ruim, Allende é simplesmente uma péssima escritora, e comercial.
Fico feliz de não ter comprado o livro, mesmo com desconto, e de alguém não ter comprado para mim, ganhei no sorteio feito pessoalmente por um representante da editora Record, que publicou o título no Brasil pelo seu selo Bertrand Brasil.
Não gosto de dar ou me desfazer de livros, mas vou me dar o prazer de doar esse, como fiz com outros por ter ganhado mais de uma vez, num pequeno nicho pregado na parede que algumas estações de metrô de São Paulo têm, a não ser que alguém no trabalho me peça.
Mal posso esperar para iniciar minha próxima leitura, com certeza mais certeira.