Ana Carolina 26/01/2024
Aurora - Vitória Souza.
"Dizem que o amor cura todas as feridas, mas me parece que depende muito do tipo de ferida e do tipo de amor. Fissuras da alma, só o amor que excede todo o entendimento pode sarar. E somente depois disso, amores menores podem dar suas contribuições" (p. 374).
Aurora é uma distopia de um mundo pós-pandêmico. Kyresia, o novo país criado para as pessoas que sobreviveram à C-19, vive sob um sistema tirânico, é um lugar onde o medo de uma nova onda da doença reina e onde as pessoas são exploradas na esteira da produção industrial. Aliás, isso foi algo que me atraiu na escrita da autora, o fato dela misturar o início do desenvolvimento industrial com o que vivemos em 2020.
Obviamente, todo o livro possui alegorias espirituais e todas elas deixaram-me emocionada. Mas, bom, aqui temos dois protagonistas nada convencionais, ambos com seus próprios problemas a serem resolvidos. De um lado, está Helsye Agri que lida com o questionamento do porquê o Pai a abandonou, algo que, em algum momento da nossa vida, já nos questionamos também. E do outro lado, está Loryan Aki que, apesar de ter tido a presença paterna, precisou cair para ter um verdadeiro encontro com o Pai.
Estou dizendo que aqui existe muita alegoria! Além disso, eu amei o fato da Vitória trazer personagens atípicos, como Hayur Tecnis que possui o espectro autista. Fico muito feliz em ver personagens assim, porque acredito que já passou da hora de falarmos mais sobre pessoas "atípicas" e de entendermos que elas são tão únicas quanto nós.
Deixo um trecho do que Hayur sofria por ser diferente e fica a reflexão para vocês: não somos todos, na realidade, diferentes uns dos outros?
"Para ser um autista, você precisa ser um bom observador. E... Sabe... Sobra bastante tempo para só observar quando te excluem de tudo" (p. 134).
Existem tantos outros personagens incríveis, como a Layla, o Jeyoke, a Kalyen e outros mais, mas aqui quero destacar Ayah-Besar, o Pai que aparentemente abandonou, mas sempre esteve por perto. O Pai que perdoa e vem ao nosso encontro. O Pai que luta por nós e nos faz vencedores, porque o Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza.
Foi esse Pai que encontrou a Helsye novamente e redimiu o Loryan, porque o amor humano não pode nos salvar, mas Ele pode. Nem todas as palavras aqui seriam possíveis para descrever o quanto amei esse livro e o quanto ele me impactou. Apenas leiam!
"E de repente não tenho mais medo, porque saber que sou amada por Ayah, que pertenço a Ele, que sou sua filha, torna toda a minha existência uma gota no seu oceano. Não há como me perder, se estou escondida nele" (p. 366).
Aurora é um livro sobre amor, perdão e liberdade, e cada página tem um pouco de cada um de nós, mas está tudo bem se ao final encontrarmos também Ayah-Besar, que significa "Grande Pai".
Ana Carolina.