Giovanna2342 20/06/2024
Psychopomp
Escrevo sobre esse livro ouvindo Psychopomp, acabo de passar por uma faixa de transição onde há um áudio da mãe de Michelle falando que está tudo bem, está tudo bem em uma voz doce e firme de mãe cheia de certezas que toca bem fundo em você e te faz pensar ainda mais em como pode a vida nos fazer em um certo momento viver sem o amparo materno, sem essa unidade forte que faz tudo e diz coisas com tanta certeza para nós. É doloroso. Esse livro é um processo constante de reconstrução de memórias, identidade, laços após perder alguém, é sobre se encontrar em meio ao luto e fazer disso uma coisa muito bonita e significativa. E Michelle faz isso de uma forma muito bonita, ela acha seu caminho por meio da culinária coreana, e é por meio dela que ela mata a saudade da sua mãe e se reconecta com sua família coreana.
Para mim esse livro teve um peso muito grande pois ainda vivo de forma muito vívida o luto e aqui me vi em muitas cenas, senti muito as perdas, as dores da Michelle, me vi mesmo ali entrando nos interior desse livro e esmiuçando todas as entranhas dele e as minhas também. Lembro da primeira vez que entrei em um supermercado após perder a minha irmã e o quanto meu coração acelerou em ver tantas pessoas, tanta gente sorrindo, com pressa, tantas pessoas simplesmente vivendo e comecei a ver minha irmã em cada uma. Vi suas costas, vi suas pernas, um vislumbre de cabelo, uma risada alta parecida e tive que deixar para trás todas as compras e ir embora. E mesmo após tanto tempo me vejo tendo dias bons e dias doloridos, em que não há como explicar a dor que sinto, a falta, a solidão.
Esse livro me levou a reviver certos momentos dificéis, mas me trouxe certos alívios em ver como ela conseguiu reestruturar essa dor em algo muito bonito e significativo, e me deu inspiração e vontade de tentar preencher as rachaduras e começar a resignificar as lembranças, não como algo ruim e sim como algo bom e leve.
Esse livro em resumo é uma biografia muito bem construída cheio de traços e culinárias da Coréia do Sul, que mostra como foi para Michelle perder a sua mãe para o cancêr e como isso moldou sua vida e sua percepção de si mesma. É um retrato de luto mas também de superação dele, é um alento para quem estiver ali meio perdido após perder alguém que amava muito, mas também é para aqueles que não perderam mas precisam de um ''toquezinho'' para não deixar para aproveitar a vida e as pessoas após perder tempo. É sobre saudade e sobre fortalecimento das tradições familiares. Enfim, é maravilhoso.