Natália Tomazeli 25/09/2022Releitura sáfica de Alice no País das Maravilhas"Ela era Ragni Aesir. Resiliência fluía por suas veias e a determinação era seu sobrenome."
Na minha infância, toda vez que me perguntavam qual minha princesa favorita, sempre pensava "ah, a Alice não é uma princesa", porque meu filme favorito da Disney era "Alice no País das Maravilhas". Tudo nele me encantava e toda vez esse era o VHS que eu pedia para minha mãe alugar para eu assistir. Bom, me tornei uma adulta e li o livro do Lewis, aliás minha adolescência foi marcada pelas adaptações do Tim Burton, continuei apaixonada por esse universo e contei tudo isso aqui para vocês para dizer: COMO É BOM VOLTAR PARA ELE!
Dessa vez, com representatividade LGBT, algo que é não só uma das minhas paixões, mas prioridades literárias hoje!
Na releitura "Entre Naipes", temos o equilíbrio maravilhoso entre as referências do original e as coisas autorais da Mari Lucioli. Aqui, a chapeleira maluca que é a protagonista e temos várias rainhas que govenam cada pedaço de Wünderland, além de um tom mais sombrio e adulto.
A estrutura de enredo pode até seguir o original, mas até mesmo aqui há muitas subversões ao material de "Alice no País das Maravilhas".
Ragni, a chapeleira, é uma protagonista irreverente e daquele jeito que a gente já sabe e espera que seja a pensona "chapeleiro maluco". É muito legal que ao longo da história, ficava me questionando o que era loucura e o que era a personagem "dançando conforme a música" e fingindo. É difícil distinguir e é aí que mora o charme e a essência dela, sempre variando entre o limiar da sanidade. Ela é bem controversa, mas como anti-heroina, é fácil compreendermos e comprarmos suas lutas. Eu gosto muito dela, de suas revoltas internas e crises de auto estima.
Em termos LGBT, quantas histórias de fantasia você já leu onde a anti-heiroina é a protagonista e é bissexual? Conheço poucas. E outras personagens na história são LGBT, claro. Mas veja bem, o romance aqui não é o foco principal da história, e sim a jornada.
Também amei (odiar) as vilãs, principalmente a Sigrid, que é a que mais aparece na trama.
"As rainhas não são malucas, apenas cruéis. Não retire a humanidade delas para que a verdade seja mais fácil de engolir. São todas previsíveis, e não há previsibilidade na verdadeira loucura."
Além de que, claro, os personagens secundários são um máximo, e até com poucas cenas conquistam não só o afeto mas a atenção de quem lê. Eu ficava torcendo muito para aparecer mais cenas da Korin, que é a irmã mais razoável de todas rainhas, ou do Chess, que mora naquela casinha, A CASINHA!!! Não posso falar mais, porque perde a graça de vocês irem catando essas referências, mas é aí que tá a delícia em ler o livro, ir visualizando aquilo que eu amo tanto no clássico de novo, e novo!
É uma história muito rápida de ler, muito gostosa porque a autora soube encaixar as referências ao material original no timming certinho e dar uma roupagem bem mais moderna ao clássico, uma mistura que combina muito e que traz aquela nostalgia maravilhosa! Leitura indispensável para quem ama releituras, histórias com representatividade LGBT e óbvio, quem ama Alice no País das Maravilhas também!
"Seu pai costumava lhe falar que nada durava para sempre, e até mesmo uma eternidade poderia durar apenas um segundo. A chapeleira não sabia se isso era verdade, mas estava tudo bem se não durasse pelo infinito. Desde que durasse todas as eternidades até o resto de sua vida."