clara 11/05/2024
O livro de fantasia mais intelectual que eu já li
Acho que a divisão de críticas boas e ruins desse livro apenas marca ele como uma obra-prima: ou você ama, ou você odeia.
Ele é ambientado em uma faculdade fictícia de tradução da Universidade de Oxford, onde o Império Britânico traz crianças de todo o mundo para estudar e, eventualmente, trabalhar para o Império.
O sistema de magia é muito bem escrito. Ele é baseado em linguística, mais especificamente na tradução de palavras e da diferença/similaridade de significado através de várias línguas, que são gravadas em barras de prata e, dependendo do que está escrito, tem diversas finalidades: auxiliar carruagens a manobrar, tecelagem, sistemas de irrigação, etc. Ao mesmo tempo que faz referencia à revolução industrial, consegue também se alinhar com a questão da tecnologia nos dias atuais: no fim, tudo é algo que torna os ricos mais ricos, deixa pessoas em situações vulneráveis e desempregadas e se aproveita de países de terceiro mundo.
O foco do livro é o Robin, um menino chinês que foi levado ao Reino Jnido para estudar na Torre de Babel na Universidade de Oxford, e nos conflitos entre as amizades que ele faz lá, incluindo um menino indiano, uma menina haitiana e uma menina britânica.
Do meu ponto de vista completamente enviesado, qualquer pessoa que leu esse livro e não gostou, simplesmente é alguém que nunca sentiu na pele algum tipo de preconceito, racismo, colorismo, homofobia, etc.
Vi várias pessoas (principalmente britânicos e estadunidenses lol) falando sobre a autora escrever de um ponto de vista 'unilateral', de ele ser 'claramente tendencioso', visto que o 'vilão' nessa história são os homens brancos britânicos e a própria Grã-Bretanha em si, mas, sinceramente, existe realmente dois lados da história? Nesse caso, existe dois pontos de vista da mesma história?
O livro fala sobre colonialismo, e não levanta a pergunta 'ai, será que colonialismo é ruim??'. É OBVIO que é ruim, a R.F. Kuang não abre espaço pra nuance justamente porque não merece nuance, não existe dois lados do colonialismo.
A nuance do livro vem da luta interna que se passa na cabeça do Robin, que não sabe o que fazer pois tem duas opções: continuar vivendo do jeito que ele estava, que, apesar de confortável, acabava em contribuir para o Império Britânico acabar com a sua terra natal e várias outras, ou tomar medidas drásticas, sendo uma delas a violência - é justamente daí que vem o título do livro: Babel ou a necessidade de violência.
É uma leitura absolutamente linda e incrível. O tanto que eu chorei com o final desse livro não ta escrito. Recomendo demais essa leitura, e, sendo a minha primeira experiência com essa escritora, não vejo a hora de ler as outras obras dela.