MariChalamet 30/03/2024
Obrigatório para todas as mulheres
Li esse livro no exato momento em que estou precisando, e me acolheu, me identifiquei, me enxerguei, ri e chorei. Maravilhoso, maravilhoso!!
?Em diversas culturas, meninas são criadas para tolerar dificuldades desnecessárias que estão conectadas ao senso de valor próprio delas. Como resultado, elas crescem acreditando que, como mulheres, nosso potencial de ser amada é equivalente à nossa capacidade de se sacrificar e de se colocar em segundo plano. [...] Torna-se difícil para elas parar e dizer 'espere um pouco, por que eu também não posso ser uma pessoa com vontades, necessidades e limites?'. Obviamente, ser generosa é uma coisa adorável e o amor pode até envolver um certo nível de sacrifício, mas é triste a ideia de que para muitas mulheres isso é tudo que ele é. Em quase todas as culturas as mulheres são valorizadas pelo seu nível de entrega, de se colocar em segundo plano:
'nossa, ela sacrificou tudo pelos filhos e pelo marido, é uma excelente mãe e esposa'. Na Nigéria, as pessoas dizem que, quando você se casa, significa que você tem outro filho, porque seu marido é, na realidade, seu filho."
?Ao entrar em um supermercado, repare nas prateleiras: logo acima, ao fácil alcance de nossas mãos, estão os produtos mais desejados. Na mesma proporção de querer, a cada fileira para baixo estão aqueles que precisamos nos esforçar para alcançar. Se as mulheres são os produtos e os supermercados, as relações amorosas, quais delas ocupam os andares superiores? Não é difícil de acertar: envolve padrão estético, machismo, etarismo e o que mais a sociedade usa de violência para nos domar, acreditando que devemos ser escolhidas, e não escolher.?
?Os homens aprendem a amar muitas coisas, as mulheres aprendem a amar os homens". Segundo ela, isso faz parte das pedagogias que nos ensinam a amar de forma identitária, ou seja, a construção da identidade feminina é mediada pelo olhar de um homem que as "escolha", o que é reconhecido como legitimação do nosso valor na sociedade. Somos socializadas para encontrar, em uma relação romântica, nossa fonte única de realização.?
?É preciso educação e letramento de gênero para destruir a ideia de que a mulher que está solteira sofre de solidão. Muito pelo contrário: se conseguirmos demolir a rivalidade entre nós e nos nutrir afetivamente de nossas amizades com outras mulheres, saberemos diferenciar migalhas de afeto das demonstrações genuínas de amor. Como diz Valeska: "É importante colocar energia e amor nas relações com outras mulheres, mãe, amigas... porque no final, quando o bicho pega, geralmente quem está do nosso lado são outras mulheres".
?Saber dizer não e não sofrer com isso é dizer sim para a nossa capacidade de estabelecer limites: a partir daqui, não vou. É também um momento crucial para não cairmos na cilada da mulher
"sempre de boa". Afinal, as únicas pessoas que ficam incomodadas quando você estabelece limites são aquelas que se beneficiaram quando você não os tinha. Quando você não está acostumada a se sentir segura, apresentar-se autoconfiante pode parecer arrogância. Quando não está acostumada a se posicionar, ser assertiva pode parecer agressividade. Quando não está acostumada a tratar suas necessidades como prioridades, colocar-se em primeiro lugar pode parecer egoísmo.?
?A dependência emocional é um prato cheio para cair em chantagens emocionais que podem nos fazer acreditar que nunca mais seremos amadas. O fantasma da solidão assombra tanto que podemos até esquecer que existia uma vida antes do outro. Como diz a gigante Nina Simone na música "You ve got to learn", "você tem de aprender a sair da mesa quando o amor ja não está sendo servido".?
?Achar que para você ser boa precisa de um complemento é o começo do fim. O que move o desejo é a falta, eu preciso me ver como ser faltante para continuar desejando o outro. O que faço quando caso? Assino um contrato de propriedade, o outro é meu e eu sou do outro. Então não há falta, nem espaço para o desejo. O problema das relações monogâmicas é isso não ser discutido.?
?Quem é mau ama com maldade, o violento ama com violência, o fraco ama com fraqueza, gente estúpida ama com estupidez. Como meu medo de abandono era tamanho a ponto de me definir, eu amava com ansiedade e insegurança.?
?Quando alguém some de repente, fica esse vazio que o título ecoa: copo vazio. A gente não consegue lidar muito com o vazio, ele dura pouco. A gente é esse vazio, mas está se preenchendo o tempo todo, e o desejo nasce dele. A gente precisa de algo não correspondido, algo não preenchido, algo não garantido para conseguir se manter desejante, para conseguir sustentar esse lugar. Desejo realizado é desejo morto. A gente precisa de vazio para reinaugurar desejos. Isso faz a gente pulsar, se movimentar.?
?O que você diz realmente elevou meu senso de consciência. Percebi que não deveria tomar coisas pessoalmente porque aquilo é apenas o ponto de vista de quem está me julgando ou fazendo suposições, e eu não tenho absolutamente nada a ver com isso. Da mesma forma que você é o personagem principal da sua história, os outros também são das deles.?
?Temos um futuro aprisionado, e isso tem a ver com como lidamos com o passado. Pensando em linha do tempo, eu tenho a sensação de que ficamos pulando do ontem para o amanhã o tempo inteiro e fazendo do amanhã um espelho do ontem.?
?Se nos permitirmos ficar atentas, despedidas podem ser menos sobre o luto do fim e mais uma celebração pelas tantas possibilidades da vida. Talvez tenha, sim, chegado o momento em que tudo cumpriu seu propósito e possamos abrir espaço para inspirar e respirar novos começos. Talvez tenha chegado a hora de sonhar de novo.?