Prosasuzana 16/09/2015
Fogo Morto
O romance é dividido em três partes, a primeira, que narra a vida do Mestre José Amaro, personagem pelo qual me apeguei muito, homem de personalidade muito forte, apesar da extrema pobreza de iluminação mental e espiritual. Ele é casado e tem uma filha que, com 30 anos nas costas, não casa e desenvolve problemas mentais. Mora em uma parte do engenho de Santa fé, sua família é sua maior frustração e tem como herói o Capitão Antônio Silvino, cangaceiro.
A segunda parte narra a vida do Coronel Lula de Holanda, dono do Engenho, homem dotado de estudos e aparências, que não tem minima vocação para administrar o Engenho de Santa Fé, herdado após a morte do sogro Capitão Tomas Cabral de Melo. É visto como hipócrita, por ser muito religioso e ao mesmo tempo ser cruel e impiedoso tanto com sua família quanto com os negros escravos. Apesar de quase falido, mantém a todo custo o orgulho e a fama de Senhor do Engenho.
A terceira parte narra a luta política do Capitão Vitorino, muito atrapalhado, mas que com muita determinação toma para si as lutas do povo contra a desigualdade social. É tratado como louco, recebe o apelido de papa-rabo, pelo qual muito o incomoda. Remete um pouco à figura de Dom Quixote, nos arrancando até boas risadas, porém nesse ultimo capítulo José Lins do Rego nos apresenta o verdadeiro espirito do homem que luta, que vai para a cadeia, que acredita na força do voto e por onde passa com sua égua tenta persuadir aqueles que desacreditam da justiça.
José Lins do Rego
Através de três capítulos, narrados de forma muito sensível, José Lins do Rego nos apresenta os personagens principais do Nordeste do século XX, com suas hipocrisias, suas ideologias e todos seus sofrimentos. Observei o quanto o Mestre José Amaro e sua esposa gostariam de casar sua filha, sendo que eles mesmos tinham um casamento totalmente falido e a pobre Marta (a filha) certamente não teria um futuro diferente, se não fosse tamanho descontamento, que a levou a transtornos mentais.
A decadência do Engenho é brilhantemente exposta nesta critica de José Lins, pois podemos enxergar três (ou até mais que isso) extremas formas de pensamento, que buscavam na sua ignorância, mudar ou manter as coisas como lhe cabiam. Enxergar também como a sociedade evolui, entender que todo esse conflito se deveu por preconceitos totalmente equivocados enraizados na sociedade que até hoje tanto tentamos mudar e evoluir.
Essa obra encanta não só pela carga de realidade que ela tem, mas principalmente pela escrita sensível, envolvente e encantadora de tratar com tamanha minuciosidade personalidades tão diferentes, que tinham nome, sobrenome, sentimentos, ações, paixões e impulsos. Personagens que cativam, que fazem rir, que fazem chorar, que nos enchem de raiva e, principalmente, nos enchem de uma vontade de ajuda-los, se sacudi-los, de abraça-los, de tomar suas dores para si.
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