Arine-san 01/11/2020O melhor de Anne Marck em uma narrativa cativanteSe você está procurando uma leitura leve e gostosa, sem grandes reviravoltas, acabou de encontrar uma boa opção. Uma Jornada para se Apaixonar é aquele tipo de leitura com um plot simples e previsível, mas ainda assim muito bem escrita e divertida.
A dinâmica do casal principal é uma das responsáveis por esse ritmo que o livro possui. É difícil não simpatizar com Felícia, uma jovem inglesa que precisou largar tudo na Europa e fugir para o Brasil, buscando segurança, liberdade e felicidade.
O grande mistério que cerca a personagem e sua fuga é um dos pontos altos do livro, guiando o leitor em uma leitura acelerada. Mas esse é apenas um dos pontos que torna Uma Jornada para se Apaixonar uma ótima leitura, viu? Me surpreendi com o humor e até discussões importantes que apareceram durante o livro.
**Uma mocinha incomum**
Tudo começa com John Russel, um aristocrata inglês poderoso, desembarcando no Brasil à procura de sua irmã que fugiu com um poeta às vésperas do próprio casamento. Ele não faz ideia de onde procurar a jovem e se adapta muito mal ao Brasil e ao seu "idioma estranho".
Até que ele encontra uma jovem estranha vestida de homem entre os profissionais que trabalhavam no porto de Salvador. Essa era a Felícia, e, não, ela não queria que ninguém descobrisse o óbvio: que ela é uma mulher estrangeira.
Com medo de ser encontrada por seu algoz, ela vive no Brasil disfarçada de homem, sem dinheiro e nem apoio de amigos. Mas tudo na vida de Felícia muda porque John percebe o seu disfarce e descobre, também, que ela fala português fluente - e, bem, ele precisa de um tradutor para conseguir coletar informações sobre a irmã fugitiva.
Desde o início, John fica intrigado com essa figura misteriosa e estranha que é a Felícia. Afinal, do quê ela está fugindo com tanto afinco? Por quê ela acha tão necessário se disfarçar de homem?
Essas são questões que também tomam a cabeça do leitor, acelerando a leitura enquanto os detalhes da vida de ambos personagens vão se desdobrando.
**O melhor de Anne Marck em uma narrativa cativante**
Não posso falar de Uma Jornada para se Apaixonar sem comentar o modo como a narrativa da Anne Marck é cativante. Ágil, muito bem construída e detalhista, esse é o tipo de narrativa que pega o leitor de jeito. Você pega o livro e quando cai em si já terminou de ler!
As interações dos protagonistas são engraçadinhas, ainda que eles tenham tentado a todo custo fugir da paixão que sentem um pelo outro. O mistério em torno de Felícia é um dos temperos dessa fuga, tornando o relacionamento de ambos instável.
Porém, apesar de muito bem escrita e contar com uma narrativa rápida, alguns dos diálogos e pensamentos do casal protagonista são irreais, sem muita personalidade e repetitivos. Em muitos momentos, essas cenas eram tão genéricas que tiravam um pouco do brilho do livro.
Quando os personagens se apaixonam, isso fica ainda mais nítido. É um tal de "fiquei sem ar ao olhar para ele" a cada 4 páragrafos do livro, o que tornou a leitura extremamente repetitiva. Cada vez que os personagens se encontravam, era uma repetição de "fiquei sem ar", "não conseguia parar de olhar para seus lábios" e outros clichês.
Isso é muito comum no gênero, mas ainda prefiro, particularmente, os romances que conseguem trazer mais personalidade (e realidade) para a narrativa.
Nesse quesito, quem roubou a cena mesmo foi a mãe de John, que tem um jeito todo dela de pensar e se expressar. Ver uma senhorinha sem papas na língua em um cenário de época é algo que eu precisava ler e nem sabia. Muito divertido!
**O ponto alto de Uma Jornada para se Apaixonar**
O ponto alto do livro, que com certeza tornou minha leitura muito mais divertida, foi ver um cenário completamente brasileiro na narrativa. Sempre comento por aí sobre como sinto falta de livros nacionais que se passam, de fato, no Brasil, e esse livro mostra como essa questão é importante.
Os cenários brasileiros bem descritos trouxeram uma identidade única para o livro e mostram o talento da autora. Explorar o país sob o ponto de vista de personagens ingleses também foi interessante, e abriu portas para a narrativa falar um pouco sobre as dores e problemas do nosso país no século XIX.
O lado negativo disso é que a narrativa focou tanto nos pontos negativos do Brasil, que a impressão que ficou é a de que os personagens sentiam um pouco de asco do país. A beleza que a orla brasileira possui, por exemplo, ou mesmo a tão famosa hospitalidade brasileira, são coisas que não aparecem nas impressões dos protagonistas.
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