Queria Estar Lendo 11/09/2018
Resenha: Um milhão de finais felizes
Um milhão de finais felizes é o segundo livro do Vitor Martins - também publicado pela Editora Globo Alt. Tal como Quinze Dias, é uma história jovem sobre amor, família e aceitação. Mais denso e um pouco mais melancólico, e igualmente marcante.
Na trama, acompanhamos Jonas. Ele trabalha em um café na Avenida Paulista - que é todo ambientado com tema de galáxias e astronautas e tem o nome de Rocket Café - não sabe muito bem o que quer para o seu futuro, mas talvez tenha alguma coisa a ver com escrever livros. Jonas convive com algumas situações desconfortáveis em casa, envolvendo o comportamento agressivo do pai e a postura ultra-religiosa da mãe, mas, longe daquelas paredes, ele encontra tranquilidade para seguir a vida.
Eis que, um dia, um moço bonitinho de barba ruiva aparece no café e uma ideia aparece na cabeça do protagonista. A ideia é, basicamente, escrever um livro sobre piratas gays - que pode, ou não, ser inspirado nesse primeiro encontro dele e do novo crush. Em meio a dramas familiares, apoio dos amigos e o desenvolvimento do que pode ser uma crush recíproca, a história de Jonas fala muito sobre o significado de família.
Um milhão de finais felizes é o tipo de livro pra te fazer sorrir muitas vezes sem nem perceber. Vai mexer com as suas emoções das melhores maneiras, e também vai te deixar triste. É uma história bastante realista e impactante; mais melancólica, como eu disse, porque lida com a homofobia de maneira mais aberta.
"Enquanto andamos juntos, é impossível não pensar que nossa relação virou um jogo de vida ou morte. A felicidade dela depende da minha infelicidade."
Jonas é um dos protagonistas mais carismáticos e doces que li este ano. Simpático, divertido (desde as piadas auto-depreciativas feitas com sutileza até o humor simples e natural da narrativa) e com uma presença marcante, Jonas conta sua história e você se sente parte dela. É fácil se sentir interagindo com todos os personagens, se sentir parte daquele mundo de cafés espaciais, piratas gays e insegurança.
A narrativa dele se mescla a alguns (poucos, eu diria, porque queria mais!) capítulos do livro que está escrevendo. A partir do momento em que encontra a inspiração para dar vida aos seus piratas, Jonas trilha uma história que faz paralelo ao que está vivendo e sentindo. No universo fantástico, a aproximação de Tod com Bart, o jovem e atraente pirata Barba Ruiva, espelha o que Jonas queria para a sua vida.
"Ele riu porque estar sozinho sob as estrelas com Bart fazia seu coração se comportar de um jeito estranho."
Mas não é só na fantasia que o ship está zarpando.
Arthur apareceu na vida do Jonas de repente, mas não para sair dela de repente também. O desenvolvimento da relação entre os dois é a coisa mais AJFABSKJGBAUOGSBAOA por falta de palavra na língua portuguesa que expresse o quanto eu surtei e mordi minha mão e gritei pelas fofuras que eles viveram. É aquele tipo de romance pra aquecer o coração e a alma e te fazer abraçar o livro porque é TÃO FELIZ e tão simpático e tão vivo. Eles existem e é isto.
"Arthur responde com um sorriso e uma piscadinha, porque o objetivo desse garoto é acabar com a minha vida."
Ao mesmo tempo em que tem todas essas alegrias, Jonas precisa conviver com os pais. A mãe é um grande amor em sua vida, mas a religiosidade absurda é tóxica e perturbadora para o garoto. E o pai, um embuste abusivo de quinta categoria. É de revoltar e tirar do sério as situações pesadas que o protagonista vive; é a mostra de um lar carregado em abuso e como isso afeta não apenas o psicológico, mas o emocional também.
No quadro de coadjuvantes, as histórias paralelas que permeiam a do Jonas são complementos bem-vindos que enriquecem o livro. Karina, sua colega de trabalho, foi minha favorita em disparada. Cheia de personalidade e atitude, é uma atriz recém-formada com o sonho de seguir carreira e a determinação para fazer isso acontecer. Eu amei a amizade estabelecida entre os dois e como ela cresceu até uma irmandade e companheirismo lindos de ler.
"- Eu não posso prever o futuro, e ninguém tem felicidade garantida pro resto da vida. Pode ser que amanhã as coisas piorem. Pode ser que você ganhe na loteria e as coisas melhorem mais ainda. A gente não tem controle de nada. Mas você não pode deixar essa falta de controle te impedir de viver o agora."
Danilo e Isadora, outros dois amigos do Jonas, também têm momentos importantes. Danilo principalmente, já que ele está lá pelo Jonas o tempo todo - com seus dramas individuais e problemas românticos; vou falar que o Danilo foi uma das POC mais adoráveis que já li e queria poder abraçar esse menino pra sempre. Isadora, por outro lado... Por boa parte da história, eu só queria dar um empurrão. Depois de entender algumas atitudes dela, a simpatia voltou.
Toda a questão do significado de "família" e "lar" permeiam os questionamentos e as situações vividas pelo Jonas. Conforme a sua jornada avança, conforme coisas boas e ruins acontecem em sua rotina, seus pensamentos começam a se ordenar para entender o que significa quando seu coração pertence a um lugar ou a um grupo de pessoas; qual o real significado de família em tudo o que ele viveu, vive e ainda vai viver.
A edição da Globo Alt tá a coisa mais linda de minha deusa. Eu sou completamente apaixonada por essa capa e a simplicidade da diagramação combinou em muito com a história.
"- Eu queria que você entendesse que nem sempre a família que nasce com a gente vai nos entender. Nem sempre eles vão ficar do nosso lado pra sempre. Mas isso nunca vai te impedir de escolher uma família nova."
Um milhão de finais felizes é a leitura perfeita pra rir e se emocionar, para se apaixonar por personagens reais, com suas histórias emotivas, alegres e críveis, acima de tudo. Um livro jovem, autêntico e atual que merece espaço nas estantes de todo mundo.
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