Kaydson Gustavo 08/08/2020
O essencial é visível aos finais felizes.
Para cada final feliz desse livro, existe um sorriso a brotar, uma lágrima a derramar e um coração a acalentar.
Esse e-book estava guardado há tanto tempo no meu kindle e eu só enrolando para lê-lo. Foi Nay, a pessoa especial que 2020 me trouxe, quem reacendeu a chama e o desejo da leitura por ele, entre uma conversa e alguns áudios trocados, não dava mais para adiar.
Muita beleza, carinho e um coração juntinho de um café quentinho para iniciá-lo. Obrigado, Nay.
O livro conta a história de Jonas, um garoto de 19 anos que sofre de todas as pressões de um jovem adulto nessa idade sofre. A cobrança familiar e pessoal de uma faculdade, um emprego, uma casa, um carro... como se a vida fosse um triatlo e a cada minuto, em cada esquina, estivesse o sucesso a nos esperar.
Como se não bastasse o caos externo, Jonas tem um dilema interno, é um jovem gay, filho de uma mãe religiosa, membro da igreja local, praticamente uma beata. E seu pai, ao qual é apresentado nas palavras iniciais como uma motivação do ódio de Jonas. A inundação de cobranças o afoga todos os dias, seu pai joga todas as frustrações diariamente nas suas costas. Jonas paga as contas da TV a cabo que, seu pai incansavelmente, torna cada dia mais cara com pay-per-views, canais adultos e futebolísticos.
Diante disso tudo, o escape de Jonas é a escrita. Carrega consigo um caderno de bolso e sempre que surge um insight, uma ideia, ele a repassa ao caderno. Seu trabalho de caixa de uma cafeteria na cidade de São Paulo é um dos refúgios que possui para sair do tormento que é sua "família".
E é em um dia comum de trabalho que surge um cliente especial, um pirata ruivo, não pirata de verdade, mas é assim que Jonas o vê. Quando a íris dos seus olhos captam, o ruivo barbudo que entra no Rocket café e pergunta sobre as bebidas vendidas, as velas do seu barco sopram em direção ao horizonte profundo do mar. O pirata chama-se Arthur.
Mesmo não estando mais na escola, Jonas ainda possui um vínculo com os amigos que conheceu no colegial. Entre eles está o Dan, seu amigo elétrico e direto, assim como Isa, sua amiga confidente, que usa camisas de bandas de rock desde sempre. Fora eles, tem o Yuri e a Karina que trabalham com ele.
Por mais que Jonas viva em meio a toda lama familiar, ele ainda consegue achar a flor de lótus, essa que só nasce na lama e na sujeira, em meio aos seus amigos. São eles que brotam-lhe sorrisos e trazem pitadas de paz ao seu dia-a-dia. Entretanto, é no seu aniversário de 20 anos que surge a o furacão e a tempestade.
Seu namorado: Arthur, o deixa em casa, após uma comemoração entre amigos.
Um grito.
Um beijo.
Seu pai vendo tudo da janela é tudo que precisa para fazer a tempestade virar enchente.
Vitor Martins, o autor, conseguiu de forma linda e dolorosa trazer um pouco à tona o que jovens LGBTQI+ sofrem, quando vem de um berço parecido com o de Jonas. A dor que Jonas sente, seja física ou psicológica, lhe deixe em cacos, existe uma forma bonita de vivenciar a família escolhida e é isso que Vitor nos traz, não só um, mas um milhão de finais felizes.