Mariana113 31/05/2022Se você é leitor de ficção, não leia issoEm primeiro lugar, quero deixar claro que esse livro não foi escolhido por mim como leitura, mas sim submetido em um clube que participo. Como coloquei como meta ler todos os livros do dito clube, não quis passar esse só por ter tido experiências desagradáveis com Augusto Cury no passado.
Em segundo lugar, eu sou leitora de ficção. Pouquíssimos dos livros que leio em um ano são de não-ficção, que é o gênero que o Augusto Cury iniciou sua jornada. Então sei que isso afeta tanto a mim como leitora quanto a ele como escritor.
Dito isso, eu realmente não gostei desse livro. A proposta é até interessante, mas não tem um aspecto da execução que eu tenha conseguido apreciar. É difícil pensar nele como uma história de ficção, não porque o enredo seja realistico, mas justamente por ele ser TÃO fora da realidade. Em alguns momentos, chegava a ser megalomaníaco.
Nenhum dos personagens do livro realmente tem a profundidade necessária pra que a gente se apegue a eles, os diálogos são mais rasos que prato de restaurante chique e você simplesmente não consegue enxergar uma pessoa falando daquele modo. Toda vez que o protagonista chamava Jesus de "O Carpinteiro de Nazaré", eu rolava os olhos com tanta força que achava que eles iam ficar presos lá atrás da minha cabeça, porque, sério, quem já chamou Jesus de Carpinteiro de Nazaré em uma conversa casual? Eu não ouvi esse termo nem nos meus anos de catequese, quem dirá em uma conversa.
Mas o personagem mais bidimensional de todos é o reitor. Primeiramente, por que diabos um reitor de Universidade engaja tão diretamente com um professor e os alunos? Completamente surreal. Depois que ele é basicamente um psicopata (palavras do próprio livro, não minhas) apenas por ser. COMO uma pessoa tão abertamente preconceituosa, mal-educada, desrespeitosa e intolerante consegue um cargo de tal importância sem impedimento nenhum? (Ela pergunta, como se o presidente do país dela não fosse exatamente assim)
E nossa, que vergonha alheia eu fiquei do robô (ROBO SAPIENS, MANO, QUE NOME É ESSE) saído diretamente de Westworld e pra quê.
Infelizmente, eu acho que os problemas desse livro não se resumem a uma narrativa rasa que se lê como não-ficção, de tão descritivas em suas teorias. Acho também que esse livro acabou sendo absurdamente capacitista, ainda mais levando em conta o fato do autor ser um psiquiatra. Todos os alunos reunidos para o estudo são taxados de modo absurdo, quando na realidade nem todas as cargas psiquiátricas são retratadas fielmente. Eu fiquei honestamente chocada com o jeito que a Síndrome de Tourette foi simplificada pra servir a trama da história. O que ficou parecendo é que todos que tem qualquer problema psicológico e psiquiátrico parecido está sempre em crise e sendo taxado de irrecuperável, insustentável e impossibilitado de socialização, o que faz que essas pessoas realmente sintam a necessidade de se afastar dos outros (o que vai contra a mensagem do livro, eu reconheço, mas se você pensar que literalmente todos os personagens que aparecem na história, com exceção do protagonista, vêem aqueles jovens como o esgoto da sociedade?nivamente, palavras do livro?é difícil reconhecer o próprio valor ao se identificar minimamente com um deles. e olha que eles foram feitos pra serem super relacionaveis)
Enfim, queria concluir dizendo que isso é um livro, mas poderia ser facilmente uma fanfic (daquelas ruins) self-insert e que o Augusto Cury só queria se colocar na posição de um psiquiatra absurdamente consagrado mundialmente e que literalmente ocupa o lugar de Jesus na história.
E pra alguém que fala tanto sobre como a sociedade está doente por amaciar os seus egos, ele não parece ter sido duro com o próprio ego.