spoiler visualizarWesley.Andriel 03/06/2017
Um olhar ao desconhecido
Eliane Brum é uma jornalista diferente de todas as outras. Gaúcha de Ijuí, sua peculiaridade é de contar histórias corriqueiras de uma maneira tão encantadora e de tamanha qualidade, a ponto de torná-las notícia. Seu faro por acontecimentos "sem importância" é enorme, assim como sua capacidade invejável de fazer deles algo apreciável e, em alguns casos, emocionante.
Em um de seus livros, A Vida Que Ninguém Vê, de 2006, sua atuação como repórter em busca do anonimato é brilhante, o que a torna ímpar diante dos demais repórteres. Nele, ela mostra de forma extraordinária figuras e histórias do cotidiano, que certamente não seriam noticiadas ou conhecidas se não fossem passar por suas mãos. Sua capacidade de ouvir e entender o ser humano é notável, assim como o seu lado sentimental presente em cada frase escrita no livro.
Vencedor do Prêmio Jabuti como Melhor Livro de Reportagem, em 2007, o livro retrata a vida e as histórias daqueles que estão sempre à nossa volta, mas que jamais recebem um olhar de ternura da imprensa ou da própria sociedade que os rodeiam, seja por qual motivo for. Ao decorrer das 23 crônicas, datadas em meados dos anos 2000, ela viaja, procura, conversa e explora todos os lugares que visita, procurando sempre tornar importantes todas as histórias das quais se orgulha em ter conhecido.
Algumas crônicas chamam muito a atenção pela maneira em que são abordadas e contadas, como é o caso de "O Sapo". Ela revela a história um homem que vive há trinta anos na Rua da Praia, em Porto Alegre, ao rés do chão pedindo esmola, já que não pode caminhar devido à falta de força em suas pernas. O modo como Eliane trata a ocasião é incrível, pois ela põe-se a mesma situação durante a entrevista e, enquanto conversa com Alverindo, que é o nome dele, vivencia a mesma situação cotidiana da qual vive o homem: no chão.
Eliane mostra-se sempre disposta a compartilhar os momentos difíceis dos seus entrevistados, propondo à seus espectadores uma reflexão nova a cada história que surge. Dá vida ao anonimato e nos obriga a ter um olhar de mais compaixão àqueles que nunca são vistos. Sua intenção não é chocar, mas, sim, retratar a realidade que há muito tempo está se tornando comum nas grandes e pequenas cidades do estado, como se tais histórias fossem dignas de serem escondidas.
No livro, fica claro o modo dinâmico e apreciativo com que ela intenciona e direciona a informação, e é exatamente esse modo de encarar e escancarar a realidade, que faz dela uma referência como repórter, seja pelo seu lado emocional, ou pela autonomia em sua tão fantástica profissão.
Wesley Andriel