Pati 19/12/2020Ouvir a voz ancestral é uma dádivaTextos simples, mas muito intensos, que nos confrontam com a materialidade do nosso afastamento da vida como ela é, de fato.Os povos originários são tidos, muitas vezes, como incivilizados, incultos, desprovidos de todo conhecimento e técnica produzidos nas cidades, no urbano, na civilização... Que falácia grandiosa é pensa que podemos prescindir dessa dádiva que é ouvir a voz da sabedoria ancestral, que vem sendo carregada por eles, de geração em geração, que fala diretamente para a alma, o coração, o que quer que seja. Essa partezinha da nossa existência, que vibra em nossas células em compasso com tudo o mais que existe, que homens brancos, eruditos e civilizados se debateram por séculos a fio discutindo e debatendo, pra chegar a conclusão filosófica de que somos uma parte ínfima em um grande sistema interdependente. Que somos afetados pelos nossos atos para com os outros, para com o ambiente. Que toda ação gera uma reação. Que somos parte do rio, vivendo e renascendo em um eterno fluxo. A pontualidade de tudo que Ailton Krenak expõe nesses pequenos textos grandiosos é irrefutável. Pode até ser contestada no plano das ideias, por pensamentos e argumentos. Mas as palavras já foram escritas, e depois de lidas, aquela partezinha dentro de nós que as escutou atentamente na vibração de cada célula, nunca mais vai esquecer seu conteúdo sacramentado.