Mauricio 19/06/2023Entender é limitado...Depois de ter lido e gostado de dois livros de Clarice Linspector: Felicidade Clandestinae e A hora da Estrela, me arrisquei a ler mais um livro dela.
O começo é bem legal, mescla um enredo com as digressões filosóficas metafísicas, existenciais, intimistas bem ao estilo da autora.
O enredo, entende-se, vida mundana real, consiste numa limpeza que G.H. decide fazer em sua casa, a começar pelo quarto da empregada que encontra-se desocupado. Essa mescla do enredo (a casa, a vida contrastante da empregada, a parede rabiscada, a vida de G.H., a limpeza da casa) com as reflexões intimistas, metafísicas e filosóficas chama muito a atenção e no início é bem legal, de uma genialidade ímpar.
Mas eu achei que o enredo se perde a partir do encontro de G.H. com uma barata no armário do quarto da empregada. É aí que a parte intimista e existencialista da escritora se aflora e praticamente engole a parte do enredo. São tantos pensamentos e digressões que fica até difícil acompanhar e achar algum sentido no meio de todo esse turbilhão de frases muitas vezes desconexas, propositalmente contraditórias e inconclusas mas tenho que admitir que nessa parte tem muitas pérolas no meio, aquelas frases de Clarisse Linspector que muitas vezes lemos em postagens de redes sociais.
Mas é exatamente isso que Clarisse Linspector quer despertar nos seus escritos.
Como ela diz numa parte do livro:
"Só depois é que eu ia entender: o que parece falta de sentido - é o sentido. Todo momento de falta de sentido é exatamente a assustadora certeza de que ali há o sentido.".
Achei o livro bom, mas não muiito fácil de ler do meio pra frente.