gigika 26/04/2024
Ser-se o mundo é crueldade
Em risos de dor, Clarice me prende num quarto ( deserto úmido) e, de mãos dadas, eu e ela, atravessamos um escuro alegre à caminho do outro lado. A caminho do encontro comigo. Não com ela, comigo. Dançamos no irreal, descobrimos o segredo do mundo, e procuramos pelo tesouro que é o tal sentido da vida. O segredo do mundo é um pedaço opaco de coisa. O tesouro é a madeira, o trinco da porta, a parede pintada, o móvel empoeirado e o gozo da vida: o ençoso branco que sai da barata.
Eu não sabia ver que isso, esse livro, é um amor delicado. Um amor que se vomita de nojo. Um amor que se desespera com o que é, e se cospe, mas continua eu. Um amor que desiste. E após lê-lo sinto falta como quem morre.