Suruassossaurus 27/08/2023
O ponto mais alto da imaginação de H. G. Wells
Definitivamente um marco da ficção científica, A Guerra dos Mundos é uma narração da breve invasão marciana na Terra contada por uma testemunha que passou por diversas situações, primeiramente fugindo com a esposa e, após se separarem (por um ato estupendamente cavalheiresco e estúpido ao meu ver), tentando reencontrá-la. O narrador, um inglês tradicional morador de uma pequena cidade e que pouco revela sobre a própria identidade, origens nem outros detalhes da sua vida além do mínimo necessário para apresentar sua história, detalha como, em 1899, presenciou a chegada de estranhos objetos, aparentemente disparados de Marte por uma espécie de canhão (este livro antecede os aviões, quem dirá qualquer espécie de foguete ou disco voador).
Uma a uma, as esferas caem no coração do orgulhoso Império Inglês, causando dúvidas e estranheza aos habitantes que, sem saber o que pensar, aguardam com otimismo o primeiro contato. Deste ponto em diante tudo o que acontece é um exercício contínuo de humildade para a humanidade. A maior potência da Terra na época mal obtém alguma vitória sobre os invasores e, quando acontece, é por um golpe do acaso ou ao custo de muito sacrifício. Neste cenário o narrador encontra personagens que colocam em em cheque coisas que temos como certas e seguras, tal qual a religião, a ordem militar e a própria humanidade, incluindo a do protagonista.
Aqui ressalto o exercício incrível de imaginação do H. G. Wells: ele simplesmente, até onde sei, consolidou as fundações de todas as futuras histórias de invasão alienígenas. Mais ainda! Armas de raios, veículos gigantes que, por falta de parâmetro comparativo, geram descrições curiosas como "uma panela com uma tampa redonda piramidal no topo apoiada sobre um tripé ágil e flexível", a aparência grotesca dos invasores, sua superioridade técnológica e seus planos contra nós, tudo se iniciou aqui.
Por não se aprofundar tanto nos personagens e focar apenas no relato, a leitura pode ficar um pouco cansativa dentre as diversas explicações e teorias que ele costura entre o relato para o melhor entendimento do leitor, contendo muitos conceitos científicos sobre física, biologia em várias ramificações, sociologia e psicologia. Contudo há momentos simplesmente sensacionais e, dizendo isso, a aparição do Thunder Child, um aríete da Marinha Real, é uma das partes que mais me empolguei, ainda que seja curta.
Este, também, é um dos livros que me fez perder um pouco de interesse em filmes baseados em obras literárias. Junto de Eu, Robô e Eu Sou a Lenda (embora este último continue sendo, para mim, um bom filme), criei a preferência por absorver as histórias escritas em vez de assistidas.
Aqui deixo, também, minha opnião que se tem um período perfeito para historias fantásticas de todo tipo é o período entre 1850 e 1910. As rápidas mudanças sociais, políticas e técnológicas tornam possível enredos onde reis e sindicatos interagem entre si em uma cidade em que em um bairro acontece um ritual de magia para invocar um demônio enquanto no outro lado dela um cientista cria uma arma de raios. Carros e carruagens, armas de fogo e espadas, o romantismo nostálgico e o progresso capitalista, tudo com o charme de uma história de época valoriza as obras que, escritas durante esta época ou posterior a ela, ganham minha preferência.
Finalizo esta resenha reconhecendo a Guerra dos Mundos como um dos meus livros favoritos, sendo uma excelente introdução para quem deseja conhecer os clássicos da ficçâo científica.