A mão esquerda da escuridão

A mão esquerda da escuridão Ursula K. Le Guin...




Resenhas - A Mão Esquerda da Escuridão


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Danilo sm 16/05/2021

Escuridão, a mão direita da luz; dois são um!
Às vezes é bom ler algo diferente, no caso ler outras obras, outros autores, mas eu não sabia que em um mesmo gênero literário poderia encontrar pérolas tão distintas. A própria Ursula K. Le Guin afirma que o trabalho do escritor é traduzir em palavras o que não pode ser dito em palavras. E a ficção científica é um dos meios mais complexos, únicos, pois sua função não é prever o futuro, mas trazer temas do "agora" os jogar ou em um futuro distante, ou em outro planeta. Nesse sentido surge A Mão Esquerda da Escuridão. O qual é considerado um dos "clássicos".

A narrativa é contada através de um relato diário do Enviado Genly Ai, da união de planetas Ekumen, mesclando com outros textos sobre a cultura do planeta Gethen/ Inverno, entre outros. Tem um ar de alta fantasia, com vários nomes novos, intrigas políticas e sua construção de universo. Já o detalhe mais intrigante, o mais comentado nesse livro é sobre gênero e sexo, já que os habitantes do planeta não tem um gênero definido, não são homens, não são mulheres, são homens-mulheres e nada ao mesmo tempo. Na maior parte desse tempo.

Confuso, não é? Essa é uma palavra que define os primeiros 50% do livro, até mais. É uma das grandes dificuldades da leitura. Le Guin só nos joga lá dentro como se já soubéssemos como é a vida lá. E coube a mim montar um quebra-cabeça bem difícil. A escrita é lenta, o desenvolvimento igualmente. A história não possui tanta urgência, é pacífica e toma o tempo que precisar. E isso toma tempo, várias descrições e divagações, ao mesmo tempo sensorial, poética, meio exotérica... Isso me foi atrativo. É uma obra muito boa, desde que você invista seu tempo nela, e tenha paciência. Após isso, Ursula fornece várias discussões, desde a fundamental dualidade de gênero, solidão, até patriotismo... Se não funcionou dessa vez com você, não foi o momento. Nem eu pude entendê-la em sua totalidade. Creio que uma futura releitura pode engrandecê-la.

Essa pode ser uma daquelas obras que mudam quem a consome. Ela tem esse toque transformador.
Se me deixou diferente, não consigo definir como. A própria autora sugere que nós não sabemos quais mudanças ocorreram, nem como, mas que aconteceu. Assim, podemos levar para a vida o que quer que absorvemos.





***ESSA PARTE PODE TER SPOILER***


Uma observação:
A autora, por escolha, se referiu aos gethenianos como "Eles", por uma questão de que o pronome não é tão determinante quanto "Elas", além de que várias vezes os nomeia "Homens"- o que faz um pouco de sentido na visão de Genly Ai, só na visão dele. No entanto, ela mantém o livro inteiro assim, nessa caracterização, o que não faz tanto sentido para denominar seres com ambos os sexos, e nenhum ao mesmo tempo. Bem... Sobre esse assunto a autora acatou algumas críticas e comentou que, pensando bem, seria bom se tivesse feito de outra forma. Mas essa escolha, apesar de confundir um pouco em caracterizar as personagens, não diminui a obra! Pelo contrário, acrescenta mais tópicos para debate.
Danilo sm 03/08/2021minha estante
NOTA: o pronome "eles" foi menos determinante por uma questão tanto de escolha da autora como do próprio idioma, que possui esse "binarismo" se assim posso dizer. Se você está lendo isso, esse comentário é a título de adicionar mais informações, uma curiosidade, do que o que já está na resenha. Era um fato que fiquei pensando muito a respeito.




Eduarda2103 15/11/2023

O protagonista é tipo "Eu tenho orgulho de ser heterotop no meu conceito... eu sou hetero ?? e eu me considero top ?"

o começo é meio difícil de pegar, mas quando vc engata a leitura fica difícil de parar. o livro é basicamente uma etnografia e isso é genial demais! rip Margaret Mead vc amaria esse daqui....!
Pevoka 16/11/2023minha estante
Boa noite Duda tbm sou fã do Gustavo do BBB22 devia ter ganhado mas não dá pra concorrer com a fazenda de bots da Maíra Cardi né




Aline 22/01/2023

Gostaria de ter gostado mais...
Ouvi falar muito bem desse livro e talvez o excesso de expectativas tenha impactado na minha leitura.
A premissa é MUITO BOA e as reflexões que o livro provoca também. O livro foi escrito na década de 60 e até hoje temos muita dificuldade de discutir gênero (vide a polêmica em torno da linguagem não-binária). A autora foi bastante vanguardista e nesse ponto o livro tem bastante mérito.
Dito isso, achei que faltou enredo. Não achei fantástico.
Em tempo: acredito que a história daria uma boa série.
Margô 23/10/2023minha estante
Huuuummm. Está na minha lista...rss. Vou colocar mais pra frente ?




Cesar Garcia 13/02/2022

Importante, mas arrastado
O livro levanta questões como gênero, política, humanidade, amizade e ignorância.
Mas ele se torna arrastado em um parte considerável do livro e acaba perdendo um pouco do brilho de suas mensagens.
Giiiii 13/02/2022minha estante
Deve ser uma característica da autora. Teve um dela que li e achei bem arrastado também.




Marcos Faria 01/04/2013

Existem dois grandes incômodos na leitura de “A mão esquerda da escuridão” (Aleph, 2008). O primeiro é a visão de um mundo em que os valores ocidentais se impõem naturalmente como único caminho válido mesmo para as potências vagamente orientalizadas ou sociedades comunistas. O segundo é a afirmação do masculino como neutro, marcando o feminino como outro (e um outro quase sempre desvalorizado, apontado como falho) mesmo numa sociedade hermafrodita (e no entanto paradoxalmente heteronormativa) como a do planeta Gethen. Ursula K. LeGuin disse, na introdução escrita em 1976, que seu livro era sobre o presente, não sobre o futuro. Um presente frio como o inverno permanente de Gethen.

Publicado originalmente no Almanaque - http://almanaque.wordpress.com/2013/04/01/meninos-eu-li-33/
Mariana 15/12/2014minha estante
Concordo com suas afirmações e achei especialmente interessante suas últimas frases, pois há tempos estou lutando para compreender por que apesar de toda a sua evolução, Ursula decidiu retratar a mulher como um ser indesejável.
As características que ela atrela ao sexo feminino são assustadoramente machistas e desagradáveis, não consegui encaixá-las com outras considerações do livro.
Se Genly é um ser que faz parte do Ekumen, e esse conceito é tão evoluído que mais de 80 mundos podem viver pacificamente sem leis estabelecidas, como pode um ser vindo de algo tão grandioso trazer essas concepções das mulheres, que inclusive são também parte desse mesmo Ekumen?




Barbara 03/09/2023

Ideia boa, mas a execução deixou a desejar
A ideia de propor um mundo sem gênero é muito boa, mas a autora não soube fazer. A escrita é confusa e arrasta. Além de ser machista e homofóbico em vários momentos. Acho que se ela tivesse sido apresentada ao conceito de não binário na época, poderia ser um livro melhor. Foi um suplício terminar de ler.
Bruno 18/12/2023minha estante
Não existia um conceito de não binariedade em 1969, Bárbara




Steph.Mostav 06/07/2020

"A ficção científica não prevê; descreve. O trabalho do romancista é mentir."
Décimo e último livro lido para a #MLI2020, uma ficção científica escrita por uma das maiores autoras do gênero. Logo na introdução já somos alertados sobre o tipo de texto que encontraremos: Le Guin deixa claro que não é uma profeta, porque seu trabalho como escritora é mentir com base na realidade a que tem acesso e nos fazer acreditar nessa mentira durante a leitura. Seu trabalho foi mais que competente, porque o mundo de Gethen é tão rico e bem descrito que se torna convincente. Aliás, são muitas as descrições de hábitos, do clima (que é de fundamental importância num planeta em que "é sempre inverno"), dos sistemas de relógio e calendário, transcrições de lendas. De longe, o que mais interessa são os habitantes e a maneira com que eles enxergam e experimentam o gênero e como interagem entre si com base nessa visão e experiência. Essa é uma das discussões do livro, mas não a única. A mão esquerda da escuridão foi publicado em 1969 e não deixa de lado a Guerra Fria: ela também está presente em um conflito entre países fictícios com semelhanças quase óbvias entre EUA e URSS, assim como o impacto negativo que uma disputa dessas tem sobre os habitantes. São dois pontos de vista principais a que temos acesso e de início me incomodei por soarem tão parecidos a ponto de quase não se diferenciarem, mas ao longo da leitura entendi as diferenças sutis entre os pensamentos e maneira de narrar do protagonista, um habitante da Terra como nós, e um dos habitantes de Gethen. Essas nuances tem muito a ver com a filosofia: Genly, mesmo acostumado ao planeta, nunca deixa de lado o pensamento dualista, a relação de diferença entre ele e os outros, enquanto para Estraven o que importa são as semelhanças e a relação entre opostos como complementos entre si. Esse é um dos grandes méritos do livro: Le Guin não só nos apresenta planetas, espécies e sistemas climáticos, mas uma maneira de pensar diferente (ao menos para a época), uma visão de mundo que não é inédita, pois como ela mesma disse na introdução, ficção científica se baseia na realidade. Desse pensamento getheniano se originam sua sociedade, suas políticas, suas religiões, todos bem fundamentados num sistema de pensamento. Tanto o início quando o fim são excepcionais e, de certa forma, se encaixam como em um ciclo, o que sempre me agradou muito.
Bya_ 06/07/2020minha estante
???




Maria Terra 20/01/2024

Tudo que eu não esperava
Em 1970, Ursula ganhava seu primeiro Prêmio Hugo com ''A mão esquerda da escuridão'' e por isso eu escolhi essa obra linda pra ter o meu primeiro contato com a escritora.

Dar uma nota para esse livro foi uma coisa que eu me esforcei muito pra conseguir fazer, e isso tudo porquê a leitura foi na direção oposta de tudo que eu imaginava.

Como boa leitora de ficção científica, esperava que esse livro desenvolvesse temas como viagem estelar, salto no tempo, planetas desconhecidos e afins... e o que eu tive a honra de encontrar foi uma escritora sensível e sem igual, que desenvolveu do zero uma língua, meses, dias, horas, estações, clima, população e sociedade como eu nunca vi. Tive o privilégio de adentrar a cultura de um povo andrógeno e assexuado, com seus costumes e cultura completamente diferentes, e ver como a autora trouxe a questão do gênero desses ''alienígenas'' como o motivo primordial que difere nós, terráqueos, deles (esse livro não é sobre militar, não vá esperando isso).

Ursula me mostrou algo que eu nunca tinha visto, e por isso esse livro me encantou tanto. Uma verdadeira gênia da ficção científica.

O motivo das 4 estrelas é que ela também não se preocupou em ser prática e concisa, e tiveram momentos que eu só desejei que aquela viagem fosse mais curta, ou que ela não descrevesse tão detalhadamente aquele cômodo.
Definitivamente pretendo ler mais obras dessa incrível mulher.
Kaue1704 08/02/2024minha estante
Oi, Maria!
Estou lendo esse livro no momento e me surpreendendo muito. Me leva a pensar o quão incrível é criar uma nova sociedade a partir de uma visão antropológica totalmente especulativa. A maioria das vezes a ficção científica está propensa a fazer especulações com a biologia e tecnologia, né?
Depois desse já vou partir para "Os despossuídos"!




Yohans.N 09/02/2023

Resenha - A mão esquerda da escuridão.
É meu primeiro contato com Ursula K. Le Guin e achei muito interessante os tópicos abordados no livro, junto daquele pano de fundo da ficção.
Demorei mais do que esperava para terminar a leitura mas isso se deu por conta de alguns capítulos um pouco maçantes do livro.

Achei os personagens um pouco difíceis de se conectar com o leitor. As vezes eles pareciam um pouco rasos em suas decisões. A autora consegue passar bem como é dificuldade da vida em Inverno, com esse frio extremo constante. Me lembrou muito Arrakis de "Duna" porém ao contrário. A narração parecia um pouco repetitiva em alguns momentos.

O tema da sexualidade era algo que eu não esperava, fui ler o livro as cegas e isso me surpreendeu. A autora deixa explícito como as relações de poder e o gênero são interligadas no nosso contexto e como isso poderia ser diferente em um mundo que todos estão expostos a estar dos dois lados (masculino e feminino) ao mesmo tempo.

Uma coisa que me incomodou um pouco foram os nomes dos personagens e lugares. Muitas vezes me pegava tentando lembrar quem era quem.

Pra concluir, apesar de algumas críticas, acho que o saldo foi positivo. Ainda pretendo ler "Os Despossuídos", da mesma autora, esse ano.
Yanne.Fernandes 09/02/2023minha estante
??????????




bluemoon 02/02/2022

Incrível
Um dos melhores livros de ficção que já li. No começo é difícil de entender, mas acho que é essa a intenção levando em consideração que estamos conhecendo outro planeta.
Rafael Kerr 02/02/2022minha estante
Oi. Tudo bem? Talvez você já tenha me visto por aqui. Desculpe o incomodo. Me chamo Rafael Kerr e sou escritor.  Se puder me ajudar a divulgar meu primeiro Livro. Ficção Medieval A Lenda de Sáuria  - O oráculo.  Ja está aqui Skoob. No Instagram @lenda.de.sauria. se gostar do tema e puder me ajudar obrigado.




Bookster Pedro Pacifico 25/09/2020

“A mão esquerda da escuridão”, de Usrula Le Guin - Nota 8/10
A premissa desse livro é muito interessante, sobretudo quando consideramos as temáticas por ele abordadas e a época em que foi lançado, em 1969. A história é construída a partir de uma missão diplomática, em que um ser humano, Genly Ai, é enviado para Gethen, um planeta extremamente distante da Terra, para tentar convencer os governantes a integrar uma comunidade interestelar. E, para a surpresa de Genly Ai, os indivíduos de Gethen não possuem gênero, são andrógenos.

Cada indivíduo nasce com um gênero neutro e, em cada período sexual, se desenvolverá para o que biologicamente entendemos como homem e mulher. Considerada como uma das principais referências no gênero da ficção científica, Le Guin desperta discussões muito interessantes sobre os papéis e as relações de gênero. Por meio do choque cultural vivenciado pelo protagonista, percebemos como muitas das características que associamos ao homem e à mulher estão ligadas tãoo somente a construções sociais.

A todo momento, Genly Ai acaba fazendo um paralelo com a nossa forma de sociedade, em que a mulher e o homem desempenham funções diferentes (imagine considerando a época em que foi publicado). Em Gethen, qualquer um pode gerar um filho e, quando não estão em sua fase sexual, vivem sem um instinto carnal influenciando suas decisões e atitudes.

Durante a leitura, também vamos encontrando reflexões sobre a sexualidade, relações de amizade e interesses políticos. A autora ainda se vale de uma escrita muito rica em sua obra. O foco não está apenas nos acontecimentos, mas também na forma como os cenários e sentimentos são descritos.

Mas confesso que o livro demora um pouco para engatar, até mesmo pela quantidade de nomes e termos associados ao novo planeta. Da mesma forma, algumas passagens podem ter um ritmo mais lento, com divagações e pouca ação. Por isso, não comece o livro esperando uma leitura repleta de aventura, mas tente aproveitá-lo levando em conta as temáticas nele trazidas e o seu caráter inovador e questionador para a época em que foi publicado.

site: http://instagram.com/book.ster
caiocezarm 10/11/2020minha estante
É exatamente isso! Um livro que demora a engatar (parece até um estudo antropológico no começo), mas quando você pega o ritmo é maravilhoso e te faz refletir sobre todas essas questões. Destaque para as páginas da aventura deles pela neve. Pura beleza!




magdiel 22/09/2015

Apenas leia!
Vários gêneros literários, principalmente a ficção científica, são enxergados através de esteriótipos, o que muitas vezes faz as pessoas pensarem que as histórias de determinado gênero são os elementos já conhecidos do mesmo e nada mais. Na verdade, tanto a ficção científica, quanto todos os seus colegas gêneros literários, são apenas templates, planos de fundo e cenários para abordar os mais diversos assuntos, sejam eles relevantes ou não.

A visita de um homem a um planeta habitado por hermafroditas, pode servir para levantar importantes questões sobre as quais todo mundo deveria pensar. “Um homem deseja que sua virilidade seja reconhecida, uma mulher deseja que sua feminilidade seja apreciada, por mais indiretos que sejam esse reconhecimento e essa apreciação. Em Inverno, isso não vai existir. Julga-se ou respeita-se uma pessoa como ser humano.” Esse trecho, por exemplo, me fez pensar no quanto o mundo seria melhor se as pessoas tivessem mais respeito umas com as outras e menos orgulho e pretensões sexuais.

Se você topar com A Mão Esquerda da Escuridão por aí em alguma livraria, ele pode até passar despercebido. O título parece nome de livro de fantasia sombria, e a capa da edição mais recente publicada pela editora Aleph não é atrativa e não chama nem um pouco de atenção. Ela também não é feia, o que não é o mais importante para um livro, mas a capa ajudaria bastante na propagação da obra. É somente quando se mergulha nas páginas escritas por Ursula K. Le Guin, que o leitor se dá conta de que está diante de uma preciosidade.

“O inesperado é o que torna a vida possível.”

Entrando na história, acompanhamos a saga de Genry Ai, um homem que vai ao planeta Gathen (também conhecido como Inverno) com a missão diplomática de propor que ele se junte ao Ekumen, que se trata de uma união planetária já com mais de 80 planetas membros, com a intenção de promover a troca de conhecimento entre eles e o comércio aberto. Acontece que os seres humanos desse planeta são um pouco complicados de lidar.

Primeiro, sua fisiologia é diferente da fisiologia dos demais seres humanos dos outros planetas. Eles permanecem um tempo como eunucos, e quando chega seu período fértil, o kemmer, eles podem tanto desenvolver o órgão reprodutor masculino, como o órgão feminino. Quando um gatheriano tem o órgão reprodutor feminino, ele pode engravidar. Embora haja essa androginia, esses seres também se generalizam como “homens”. Mesmo quando estão no kemmer da forma feminina. Não existe conceito de “mulher”.

Segundo, que sua cultura, filosofia e estilo de vida são conservadoras, e sua civilização é um pouco atrasada. De que forma? Eles não possuem nenhum veículo que voe, e também não acreditam em vida extra-terrestre. Com a chegado do chamado “Enviado”, Genry Ai, os gatherianos o consideram uma aberração por sua fisiologia apenas masculina. O chamam até de pervertido por permanecer o tempo inteiro no kemmer. Também o consideram um mentiroso ao afirmar sobre a vida fora do planeta Inverno.

Ursula extrai ao máximo as questões que podem ser levantadas a partir dessas complicações. Os gatherianos não são muito diferentes da sociedade atual. Eles são intolerantes, hostis, não confiáveis.

“Se a civilização tem um oposto, é a guerra. Das duas coisas, ou se tem uma ou outra. Não ambas.“

Eu poderia falar que o livro aborda igualdade sexual, natureza humana e várias outras coisas. Mas direi algo muito mais importante: Leia o livro! As idéias impostas pela Ursula em 1969 são tão atuais que conversam melhor com a sociedade de hoje do que várias outras obras de nossa década.

“— Você ainda não percebeu, Genry, por que aperfeiçoamos e praticamos a Vidência?

— Não…

— Para demonstrar a completa inutilidade de saber a resposta à pergunta errada.“

Além da saga de Genry Ai, o livro também possui vários elementos que ajudam a enriquecer a história. Os gatherianos, suas características, o planeta como um todo, uma religião e uma mitologia própria. Mas o que realmente me arrebatou, foi sua ideologia.

“— O Desconhecido — (…) —, o não previsto, o não provado: é nisso que se baseia a vida. A ignorância é a base do pensamento. A não-prova é a base da ação. Se houvesse certeza de que Deus não existe, não haveria religião. (…) Mas também, se houvesse certeza de que Deus existe, não haveria religião… Diga-me, Genry, o que sabemos: O que é certo, previsível, inevitável… a única certeza que você tem sobre seu futuro, e o meu?

— Que vamos morrer.

— Sim. Só existe realmente uma pergunta que pode ser respondida, Genry, e já sabemos a resposta… A única coisa que torna a vida possível é a incerteza permanente e intolerável: não saber o que vem depois.“


site: codigo137.blogspot.com
Caroline 17/01/2016minha estante
Esse trecho é demais




Arine-san 21/12/2015

Assim seriamos nós sem o sexo?
Ursula K. Le Guin, uma das autoras mais famosas de ficção cientifica, conseguiu ir além na luta feminista pela igualdade de gêneros. Usando viagens intergaláctica como pano de fundo e um homem muito humano como protagonista, ela nos leva ao mundo gelado de Gethen, onde tudo é inverno - mas nem de longe isso é o de mais anormal no planeta. Já imaginou um mundo sem as barreiras sociais que permeiam o homem e a mulher? Um mundo sem responsabilidades de sexo, sem machismo, sem homofobia, sem violência contra o gênero mais fraco? Bem vindo ao planeta Inverno de Ursula.

Publicado pela primeira vez em 1969, o livro narra uma sociedade quase medieval num imenso mundo de gelo sem fim. A Mão Esquerda da Escuridão é um livro de ficção cientifica, sim, mas o que Ursula quer fazer é apontar como o sexo (de um modo geral) moldou nossa sociedade de uma forma doente. Como gerar essa reflexão? Criando uma sociedade em que os gêneros simplesmente não existem e o sexo não é ferramenta nem de prazer, nem de poder, como em nosso mundo. Somos apresentadas, logo de inicio, à Genly Ai, um homem de nosso planeta que foi mandado a uma missão até o estranho planeta de Gethen, onde os humanideos não são homens nem mulheres - e ainda assim os dois - à todo momento.


“Como se odeia ou como se ama um país? [...] Conheço gente, conheço cidades, fazendas, montanhas, rios, rochas, sei como, ao entardecer do outono, o sol cai oblíquo sobre certa terra arada nas montanhas; mas qual a finalidade de dar fronteiras a isto tudo, ou dar-lhe um nome e deixar de amar, no momento em que muda de nome?”

A missão de Genly exige que ele convença governantes locais a se unirem a um tipo de ordem universal que une raças “humanas” - no caso, pensantes e organizadas em sociedade - para troca comerciais e de conhecimento. Em Gethen, há muitos desafios quanto à isso. Gethen é um planeta de nações que não gostam uma das outras, mas não se dedicam à guerra, algo que intriga Genly. Todos, definitivamente todos, parecem carregar caracteristicas tanto femininas quanto masculinas, e a procriação da especie transforma, momentaneamente, cada um do casal em algum dos gêneros. O efeito disso sobre a sociedade é muito visível: qualquer um pode ser mãe, pai, político, ou qualquer outra coisa. Para Genly, um homem, entender o funcionamento dessa sociedade exige muito mais que abdicar da ideia de homem ou mulher, exige que ele passe a ver as pessoas não como ela enxergava aqui - um homem, uma mulher -, mas como pessoas. Só pessoas. Nada de papéis sociais implícitos, como ele estava acostumado a ver.


“Creio que ele acha que chorar é mau ou vergonhoso. Mesmo quando estava muito mal e efraquecido, nos primeiros dias da nossa fuga, ele escondia o rosto de mim quando chorava. Que razões pessoais, raciais, sociais, sexuais - que eu sei? - tem ele para não chorar?” - questiona Estraven, gentheiano, sobre Genly Ai

A história dá diversas reviravoltas, enquanto Genly tenta entender essa estranha sociedade ao mesmo tempo que tenta cumprir sua missão. O livro acaba se tornando um embate de joguinhos políticos internacionais, e Genly, no meio de tudo isso, corre perigo. Ele encontra amigos, descobre o amor, vê na face do inimigo um amigo fiel, desbrava o continente pra se salvar… São muitas coisas, mesmo, nas 295 páginas que Le Guin escreveu.

Apesar da história ser bem movimentada, a narrativa sempre em primeira pessoa dá um toque mais intimista para tudo que está acontecendo. Para alguns, isso transformará a leitura num trajeto lento e que precisa ser trilhado com paciência; para mim, que adoro entrar na cabeça de personagens interessantes, essa narrativa foi uma dádiva. Quando a autora decide abrir o leque para um outro personagem - que ninguém imagina ganhando tanto destaque -, a leitura torna-se ainda mais interessante.

Gethen e sua falta de guerra e sexo por prazer me lembrou uma coisa interessante que somos apresentadas à filosofia logo no inicio de nosso aprendizado na disciplina. O desejo, dizem, movimenta o homem à viver, e movimenta outras coisas, como a guerra. Fiquei pensando se a autora pensou nesse detalhe ao criar uma sociedade tão ambigua, em que os seres são homens e mulheres e não pensam no sexo como prazeroso. Uma sociedade que não está em busca do desejo ou prazer, seja ele de qual forma for… Só está ali para sobreviver, e nem sempre com regalias. Gethen chega a soar um mundo medieval, sem tecnologias apuradas, mas ainda assim com uma gente de intelecto desenvolvido e política acirrada. Assim seriamos nós sem o sexo? A autora parece perguntar ao leitor isso à todo momento.

Como uma interessada pelas questões de gênero e afins, a leitura foi como olhar para um todo e subentender a origem num único detalhe. Longe de estar aqui dando um veredito sobre a qualidade, ou não, do livro, acho que quem se interessa pelo mesmo assunto pode se apaixonar pela autora assim como me apaixonei. A leitura é lenta, mas não parada, e Le Guin sabe enfiar o leitor na cabeça de seu protagonista como muito autor não sabe fazer. Quem sabe, Genly Ai talvez seja a própria autora conversando conosco sobre um tema, tão vivo e humano como ele é. Esse é o livro que prova que ficção cientifica não é puramente sabres de luz e batalhas no espaço; um bom romance com toque psicológico e analítico pode ser, também, uma boa ficção cientifica, como A Mão Esquerda da Escuridão é.

site: https://redatoraquele.wordpress.com/2015/12/21/resenha-a-mao-esquerda-da-escuridao-ursula-k-le-guin
Caroline 17/01/2016minha estante
Adorei tua resenha guria!




Carla.Floores 29/03/2024

Diplomacia e progresso
O encontro de etnias, raças, espécies e culturas gera estranheza a princípio e até aversão, mas com um pouco de paciência, resiliência e óbvio, oportunidade, é possível observar as diferenças e tirar o melhor proveito delas. Exceto para aqueles que são conservadores até os átomos ou para aqueles que pouco se importam com o passado de seus ancestrais.
E qual o papel da tradição nisso tudo?
Para saber pra onde ir é preciso saber de onde veio. Aprender com os erros, não só os seus, mas aqueles que outros cometeram, e que deixaram como legado histórias, sejam elas faladas ou escritas.
O final ficou em aberto, com a pergunta: o que acontece a um planeta onde o legado de seus ancestrais é deixado de lado?
A missão do terráqueo Genly Ai é inicialmente convencer os governantes do planeta Gethen (Inverno) a aderirem ao Conselho Ecumênico. Para os trekers é fácil, é como se o Conselho fosse a Federação dos Planetas Unidos e Genly Ai fosse o capitão Picard, Archer ou qualquer outro enviado a missões diplomáticas de exploração.
Todo o desenrolar dessa missão, seus percalços e conquistas, vai ser transcorrido numa narrativa muito parecida com O Senhor dos Anéis. Descrição de paisagem, temperaturas, árvores, trejeitos, fisiologia dos habitantes etc. Há partes que não precisariam estar ali, mas que no fundo servem para dar profundidade à trama ou completar o universo criado por Ursula.
E o ponto alto desse livro, a coisa mais marcante dele é que, apesar de ter sido publicado em 1969, Ursula abordou questões que ainda hoje são difíceis de entender pra grande maioria das pessoas. Como, por exemplo, a não-binareidade, a assexualidade, a transsexualidade, questões de gênero em geral.
“Suponho que a coisa mais importante, o fator único de
maior peso na vida do indivíduo, é se ele nasceu macho
ou fêmea. Na maior parte das sociedades, isto determina
suas expectativas, atividades, pontos de vista, ética,
maneiras, quase tudo. Vocabulário, vestuário, até mesmo
alimentação. As mulheres, em geral, comem menos.”
Fiquei durante toda a leitura me perguntando de onde raios ela tirou esse nome ‘A Mão Esquerda da Escuridão’, como boa canhota que sou. E o conceito é bem legal. Tem tudo a ver com a diplomacia necessária para o progresso.
Vania.Cristina 30/03/2024minha estante
Ah que legal, Carla!!! Muito bom, fiquei com mais vontade ainda de ler




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